CRÍTICA; NINGUÉM SAI VIVO DAQUI
O cinema brasileiro atualmente está contando com uma grande diversidade de produções, indo do território indígena, como em “Flor de Buriti”, até os outsiders no Brasil, como “Salamandra”. Mas, sempre com um pé no horror social. Isso se torna nítido no início do ano, com produções como “Uma Família Feliz” ou, justamente, agora com “Ninguém sai Vivo Daqui”.
O Holocausto Brasileiro é um período de poucas adaptações em audiovisual, muito por conta de sua violência extrapolada em cima de vítimas que não fizeram absolutamente nada e foram trancafiadas em um manicômio por serem quem são socialmente e não mentalmente. Assim, produções do tipo teriam que passar por diversas cenas de mal estar e desgraças gratuitas, o que, além de, infelizmente, não gerar investimento na produção, em mãos de direção menos habeas pode gerar uma contextualização a ser um pouco mais problemática.
A principal obra que relatou o período perturbado brasileiro foi “Holocausto Brasileiro”, livro documental – jornalístico de Daniela Arbex. Usando de relatos, a obra parte do imparcial para traçar sua narrativa, buscando nas palavras das pessoas uma forma de emancipar as verdades relatadas e sentimentalizar as vítimas, diferentemente de “Ninguém sai vivo daqui”.
A produção fílmica acompanha uma personagem fictícia, Elisa, que passa por também relatos não factuais, mas somente baseados na realidade do período retratado. Indo de cenas de tortura expositivas a abusos sexuais, o longa tenta expor uma realidade, mas não através de relatos e, sim, da ficção que tenta sensibilizar o público. O que pode agradar, também pode desagradar.
Ao não ser factual, não se acompanha uma representação realística dos eventos, mas livre a interpretações, o que vem a desagradar muitos. Entretanto, com a não realidade sendo aplicada à narrativa, o longa consegue conduzir mais facilmente a um clima odioso pelos abusos realizados em tela, não se prendendo ao verossímil literal, mas a uma série de contos fabricados para causar ódio, facilitando a condução dos sentimentos pelo público.
Não somente em trama essa ideia de ódio construído é aplicada. A fotografia, em um tom preto e branco granulado, retrata um lugar onde não tem cinza entre os personagens. Há mártires, por uma sociedade extremamente concatenada no ataque à outrem, e pessoas que se utilizam desses mesmos para a tortura. Colônia, hospício onde os eventos da obra tomam lugar, não é um lugar onde há tons cinzas, em um maneira social, mas somente tons pretos e brancos, revelando a bondade de alguns e malefícios dos próximos.
Não somente por imagem esse sentimento é guiado, mas também por som. Grande parte da atmosfera da produção recai em sua qualidade sonora que consegue ser constituída por barulhos agonizantes que vem repentinamente, quase como os personagens estivessem ficando loucos mesmo não sendo, o que também é mostrado em encenações de certas figuras do longa, indo da sanidade ao estado deturpado do ser humano.
Ao final, “Ninguém sai vivo Daqui” consegue construir de algo irreal, uma série de cenas baseadas no factual, tanto pela narrativa de Elisa quanto pela fotografia, qualidade sonoro e performances de seus atores. Entretanto, ao não abordar o real, não choca com a realidade de fato vivida e isso pode vir a ser algo a ser discutido, ao filme querer mais sensibilizar que relatar os horrores de uma época sombria do território nacional, o que pode se tornar incômodo a alguns e a outros não.
NOTA FINAL
4/5
★ ★ ★ ★
Autor: Lucas Leite Tinoco
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