CRÍTICA; DEADPOOL & WOLVERINE
Falar sobre “Deadpool & Wolverine” é como pisar em ovos. Como saber o que revelar ou não de uma produção que desde as suas filmagens vem sendo extensivamente dissecada, dando origem a inúmeras teorias e boatos. Uma coisa que pode ser dita sem medo é que a compra da 20th Century Studios (ou antiga “Fox”) de certa forma dita o tom da terceira aventura do mercenário tagarela.
O roteiro, mais uma vez co-escrito por Ryan Reynolds, investe ainda mais na metalinguagem, constantemente referenciando não só os filmes que compõem o catálogo da Fox, mas também alguns projetos que nunca sequer tiveram a chance de sair do papel (e outros que estão em produção). É necessário que o espectador esteja em dia com tudo que envolve esse universo caso este queira aproveitar a experiência de forma mais completa.
Para aqueles que ainda tinham dúvidas se a casa do Mickey ia de alguma forma domar o humor anárquico de Wade Wilson: não preocupem. Inclusive o tom das piadas ainda é mais escrachado, com inúmeros palavrões e referencias sexuais sendo proferidas na velocidade de um disparo de metralhadora. A violência continua bastante gráfica. Membros decepados preenchem praticamente todas as cenas de ação. O universo de Deadpool continua sendo apenas para aqueles com alta tolerância para um humor mais juvenil.
A trama dessa terceira aventura acompanha Wade Wilson pouco depois da viajem no tempo que ocorre após os créditos de “Deadpool 2”. Wade agora vive uma vida pacata como civil. Essa rotina acaba desencadeando uma melancolia nele, assim como uma dúvida sobre qual de fato é o seu lugar no mundo. Tudo muda com quando a Autoridade de Variação Temporal (ou AVT) – apresentada na série “Loki” – bate à sua porta. É através deles que Wade descobre que uma grande ameaça se aproxima.
Assim como os dois filmes anteriores, “Deadpool & Wolverine” flerta com a ideia de se tornar uma legitima paródia do universo de super-heróis. E assim como os anteriores, é uma promessa que acaba ficando pelo caminho. Existe uma história interessante aqui sobre aceitar a si mesmo, mas que acaba sendo sufocada pelo ritmo interrupto de piadas e cameos.
O filme encontra um certo equilíbrio quando Wolverine entra em cena. Hugh Jackman ainda tira o personagem de letra. Ele acaba de certa forma trazendo um foco dramático e um respiro para trama, contribuindo inclusive para o ritmo do filme. Sua presença dá um ar de buddy comedy e acaba revela uma faceta mais explicitamente cômica que Jackman ainda não tinha tido a chance de demostrar nos longas anteriores.
Emma Corrin tem pouco a fazer no papel de antagonista. Sua Cassandra Nova não tem tempo de tela o suficiente para se tornar uma vilã memorável ou nem mesmo para tornar significativa sua conexão com um certo membro do universo X-Men. Matthew Macfadyen marca presença com um personagem que traz de volta toda sua energia de Tom Wambsgans da série “Succession”, elevando assim um personagem que no papel é apenas burocrático.
“Deadpool & Wolverine” de certa forma funciona como o “Vingadores: Ultimato” da era Fox. Os fãs mais nostálgicos por esse período vão se sentir no paraíso na maior parte do tempo. Mesmo após alguns vazamentos, ainda contém muitas surpresas quando o assunto são participações especiais.
É um projeto que carrega o espirito do mercenário tagarela em todos os seus frames – para o bem ou para mal. Fica praticamente impossível apontar suas fragilidades sem entrar em spoilers. Basta dizer que ainda que a carnificina desordenada sugira um caminho para o caos libertador, no fim do dia esse é mais um longa que acaba sendo vítima dos mesmos limites criativos que assolam tantas outras produções do gênero.
NOTA FINAL
3/5
★ ★ ★
Autor: Raphael Aguiar
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