45 após a estreia de “O Oitavo Passageiro”, o universo da franquia “Alien” se expandiu através de 7 filmes – ou 9, caso você queira incluir também os 2 crossovers com a franquia “Predador”
Se o clássico de Ridley Scott tinha claramente uma inclinação maior para o gênero de horror, todas as outras sequências contrastaram entre si seja pelo tom ou pelo tema central que move a trama da vez.
Confira nossas outras críticas:
- Crítica | Kozyrev Horrors – Ideia boa, mas execução decepcionante
- Crítica | Wicked – Adaptação feita com total reverência
- Crítica | Duna: Profecia – Episódio 1: A Mão Oculta
De James Cameron até Paul W. S. Anderson, na franquia “Alien” cada produção inspirou defensores e detratores de diferentes maneiras. Um universo com um pouco para quase todos os gostos. Eis que “Alien: Romulus” parece ser o primeiro a ter seu DNA mais próximo do longa original – talvez mais próximo até que “O Resgate”.
Situado em algum momento após os eventos do primeiro filme, o longa acompanha a saga da jovem órfã Rain (Cailee Spaeny). Presa em um planeta de mineração comandado pelas corporações Weyland, Rain sonha em escapar para um lugar aonde possa ter alguma perspectiva de futuro. Em um momento de desespero ela acaba embarcando em um plano de fuga orquestrado pelo seu ex-namorado, Tyler (Archie Renaux).
O maior problema é que caso o plano tenha sucesso, Rain terá que deixar para trás Andy (David Jonsson), um sintético com quem ela nutre uma forte relação fraternal.
Fede Alvarez (A Morte do Demônio) comanda o longa com toda energia evidenciada nos seus longas de horror anteriores. O apreço do cineasta em mesclar efeitos práticos com digitais realmente ajuda na atmosfera das cenas de ação. Existe uma textura orgânica nas criaturas que é admirável. Tudo em cena sempre parece estar coberto por materiais orgânicos como placentas e outros fluidos, o que torna as criaturas alienígenas ainda mais palpáveis e repugnantes.
A fotografia Galo Olivares valoriza bastante silhuetas e além de buscar diferentes formas de explorar espaços escuros e vazios. Até mesmo planos abertos tem a sensação de serem agonizantemente claustrofóbicos.
E quando as estrelas alienígenas dão as caras, a câmera faz questão de traduzir toda a imponência grotesca dos Xenomorfos. A forma como Alvarez dirige os momentos mais intensos inclusive remete bastante ao seu trabalho em “O Homem Nas Trevas”.
O cineasta uruguaio também co-assina o roteiro. E esse acaba sendo o ponto que faz com que “Romulus” não se torne algo mais especial. Diferente dos longas anteriores, essa aventura não se preocupa muito com temas maiores. Nada daquela idiossincrasia filosófica dos prequels pode ser encontrada aqui. Nem muito menos algo próximo da alegoria sobre a maternidade de “O Resgate”.
Assim como em “O Oitavo Passageiro”, a forma como grandes corporações simplesmente parecem estar dispostas a colocar a vida de seus funcionários na linha de fogo sem um menor pudor caso em prol dos interesses da companhia é algo que perpassa a trama – mas aqui nunca se dá de maneira tão aprofundada como no primeiro filme.
Existe um esboço de um paralelo entre o mito de Romulo e Remo com a trajetória de Rain e Andy. Mas ainda assim não é algo que o filme se mostre de fato interessado em desenvolver.
Cabe a Cailee Spaeny e a David Jonsson a função de criarem a âncora emocional para essa história. Spaeny se posiciona mais uma vez como um dos nomes mais promissores da sua geração. Sua Rain não se limita em ser uma imitação de Ripley – embora o roteiro não lhe faça favores. Já Jonsson rouba praticamente todas as suas cenas com aquele que talvez seja o papel mais complexo do longa.
É impressionante como ele consegue ir do doce para o estoico apenas com uma sutil mudança na expressão facial. Seu Andy certamente merece um lugar no panteão de personagens Androides/Sintéticos inesquecíveis dessa franquia.
O vínculo aparentemente inquebrável entre Rain e Andy é o grande trunfo de “Romulus”. A questão de que se Andy de fato sente alguma espécie de afeto por Rain, ou se tudo é apenas resultado da sua diretriz, traz uma camada interessante, ainda que essa seja uma situação semelhante à relação entre Daniels e Walter em “Alien: Covenant”.
Outro ponto que acaba algemando “Romulus” são suas excessivas referências aos acontecimentos de filmes anteriores. Essa é uma história que fica na sombra de tudo que já foi feito na franquia, forçando o espectador involuntariamente a tentar encaixar ela dentro de um ponto específico na continuidade.
Algumas frases e gestos parecem meticulosamente mimetizar o de outros personagens da franquia isso acabam roubando um tanto da personalidade do jovem elenco, além de diluir o propósito do filme que estamos assistindo.
“Alien: Romulus” passa longe de reinventar a roda dentro da franquia. E nem pretende. Pelo contrário, Alvarez parece estar bastante confortável brincando no seu canto de maneira modesta. Ainda assim, é uma adição que consegue ser emocionante o suficiente para nos lembrar o quão aterrorizante um facehugger pode ser e inspirar no público parte da agonia de se estar preso no espaço com um dos monstros mais icônicos do cinema.
NOTA FINAL
3,5/5
★ ★ ★
Autor: Raphael Aguiar
1 Comentário
[…] ● CRÍTICA | ALIEN: ROMULUS – O MAIS PERTO DO ORIGINAL […]