Sob o céu em chamas de uma beira de estrada no litoral cearense, o Motel Destino é palco de jogos perigosos de desejo, poder e violência. Em uma noite, a chegada do jovem Heraldo transforma definitivamente o cotidiano do local.
Confira nossas outras críticas:
Aplaudido nos festivais de Cannes e Gramado, o novo filme do cearense Karim Aïnouz é um ousado thriller com uma estética requintada no melhor estilo noir, repleta de cores e com uma atmosfera sufocante e intimista. Há um verdadeiro contraste entre o vermelho forte e o azul frio que permeia os corredores do motel.
A vida dos três personagens principais da trama — o jovem Heraldo (interpretado pelo estreante Iago Xavier), o miliciano Elias (Fábio Assunção, em seu melhor papel em anos) e sua esposa, Dayana (Nathaly Rocha) — é definida pelas escolhas erradas que fazem em um triângulo amoroso permeado por uma sexualidade latente e embriagante.
Aïnouz afirmou em coletiva que sua grande inspiração para este filme veio de Brian De Palma, com planos detalhes bem elaborados e um clima sufocante que aumenta a ansiedade e o mistério. Temos a mesma intensidade sexual que o diretor nos trouxe em seu último filme gravado no Ceará, Praia do Futuro (2014), mas com uma narrativa muito mais marginal e carnal.
Mesmo a nudez frontal dos atores não torna o filme pesado; ela ocorre em uma cena pós-sexo, em que os personagens estão relaxados e distantes do clima tenso da trama. Há uma metalinguagem presente em tudo. Karim realmente pensou em cada detalhe deste projeto, e não é à toa que o diretor já fala em séries e sequências focadas no universo de Motel Destino.
Sobre o elenco: No Fábio Assunção de Motel Destino, não vemos nada do galã global que conhecemos.
Seu Elias é asqueroso, machista e cruel; sua relação obsessiva com a esposa e seu desejo intrínseco pelo jovem Heraldo mantêm o filme com uma tensão constante, culminando em um final imprevisível e explosivo. A grande química entre o elenco é perceptível na tela e é responsável por uma realidade brutal nas cenas. Tudo é muito orgânico e real. O filme tem poucas cenas externas; a maior parte da ação se passa dentro do motel, com seus clientes peculiares e suas tarefas ordinárias e nada gratificantes.
Um detalhe importante é que o filme foi todo rodado em película, o que encareceu os custos de produção, mas proporcionou uma fotografia única. Juntamente com o trabalho de colorimetria de Dirk Meier, o filme não só nos oferece uma visão do motel decadente, mas também nos permite sentir os cheiros e as sensações que o local provoca.
É muito bom ver esse respiro crítico e denso no cinema nacional, longe das estruturas novelísticas que têm guiado muitos dos filmes comerciais brasileiros, assim como foi o caso do badalado thriller Uma Família Feliz de José Eduardo Belmonte, que surpreendeu público e crítica e teve uma boa carreira nacional e internacional.
Podemos dizer que temos orgulho de um cinema com uma linguagem muito particular e um coração pulsante, que só precisa de uma boa distribuição para que o público possa assistir e contemplar nossa belíssima 7ª arte.
NOTA FINAL
4,5/5
★ ★ ★ ★
Autor: Daniel Castilhos