Para muitos, a imagem do Máskara remete instantaneamente ao carismático filme de 1994 estrelado por Jim Carrey e ao desenho animado que se seguiu em 1995. No entanto, por trás da comédia explosiva e dos poderes hilários, reside uma origem muito mais sombria e violenta nos quadrinhos, onde o personagem era conhecido por outro nome e possuía uma essência verdadeiramente aterrorizante.
A Gênese Sombria: O Artefato e Seus Primeiros Passos
O Máskara, ou melhor, o artefato mágico em si, foi criado em 1982 por Mike Richardson, que desenvolveu o personagem e o utilizou em publicações amadoras até 1985. Foi em 1989 que a editora Dark Horse Comics publicou oficialmente o personagem pela primeira vez na revista Dark Horse Presents número 10, onde foi introduzido como “Mask”. No mesmo ano, na revista Anthology, ele ganhou seu visual icônico pelas mãos de Chris Warner.
A história da máscara começa em um tempo desconhecido, em uma tribo africana, onde o artefato foi criado com magia e feito de pedra Jade, o que explica seu aspecto verde. Utilizada em rituais tribais, a máscara concedia ao portador poderes fora do normal, permitindo a realização de desejos. Contudo, havia um problema crucial: com o tempo, a máscara começava a manipular o hospedeiro, como um simbionte, controlando suas ações e instigando atos terríveis. Por essa razão, ela foi abandonada.

Stanley Ipkiss: A Ascensão do “Big Head” Original
Nos dias atuais das HQs, a máscara foi encontrada por Stanley Ipkiss em uma loja de antiguidades. Procurando um presente para sua namorada, Kathleen, ele a comprou e levou para casa. Naquela noite, movido pela curiosidade, Stanley coloca a máscara no rosto.
A transformação é imediata e drástica: ele se torna um ser de cabeça grande e verde, vestindo um paletó. No mesmo instante, perde a inibição e o senso das coisas, saindo pelas ruas. Ao ser atropelado por um carro, sua cabeça é esmagada, mas ele se recupera instantaneamente, percebendo que havia ganhado poderes com a máscara. Stanley cogita usar esses poderes para ser um tipo de super-herói, mas antes, decide se vingar de pessoas que o prejudicaram. O problema é que suas vinganças são violentas e letais, resultando em assassinatos e chamando a atenção da mídia, que o apelida de “Big Head”.
Mesmo após retirar a máscara, a influência persiste, levando-o a continuar a vingança e a se tornar violento com Kathleen. Ao perceber a conexão com a máscara, Kathleen a joga no lixo. No desespero de Stanley em encontrá-la, a violência escala, resultando na morte de 11 policiais. De volta em casa, Kathleen pega a máscara e, transformada em Big Head, mata Stanley com um tiro nas costas.
A Evolução do Caos: De Kathleen ao Tenente Kellaway
Stanley Ipkiss não foi o único a usar a máscara. Após sua morte, Kathleen a utilizou por um tempo até entregá-la ao Tenente Kellaway, Kellaway, cético sobre os poderes, acaba usando a máscara e se transforma em Big Head. Sob a influência do artefato, ele se torna um policial justiceiro insano e violento, matando e perseguindo criminosos na cidade. O único que consegue causar algum dano ao Big Head é o grandalhão Walter, que busca vingança por ter seu chefe assassinado.
Percebendo a loucura de usar a máscara, Kellaway tenta se livrar dela, internando-a em seu cofre. No entanto, a máscara é roubada por um bandido que se torna um chefe do crime organizado. Kathleen, com sua experiência anterior, ajuda a parar esse novo Big Head. A máscara foi encontrada e usada por diversas outras pessoas, incluindo quatro amigos fascinados pelo Big Head, e até mesmo pelo próprio Walter, mas seu rosto grande impedia o encaixe, e ela não funcionava, sendo jogada fora.
A máscara também participou de crossovers notáveis com personagens como Lobo da DC Comics e até mesmo o Coringa, que se tornou um ser ainda mais insano sob sua influência. Batman conseguiu impedir o Coringa, que abandonou a máscara, levando-a novamente para as mãos do Tenente Kellaway. Para acabar com a loucura de vez, Kellaway enterra a máscara com o corpo de Stanley Ipkiss, no túmulo onde tudo começou. Essas histórias originais do Máskara terminaram em 2000.
Os Poderes do Big Head e a Mudança de Nome
Independentemente de quem a usasse, o portador da máscara se tornava o Big Head, incorporando uma série de poderes assustadores. Ele era imune a qualquer tipo de lesão, não sentindo dor mesmo sangrando, cortado ou com pedaços do corpo faltando, além de possuir um fator de cura extremamente acelerado. O Big Head tinha a habilidade de transformar e criar qualquer arma ou objeto do nada. Além disso, era capaz de alterar a percepção da realidade** nas pessoas ao seu redor, possuindo força, velocidade e agilidade elevadas, e se tornando indestrutível. Contudo, a máscara controlava o portador, levando à perda da seriedade, das inibições e do autocontrole.
É importante ressaltar que o personagem era conhecido nos quadrinhos como **Big Head, e só passou a ser chamado de O Máskara após o filme de 1994. Antes disso, “Mask” (Máscara) se referia apenas ao artefato.
O Máskara nas Mídias: Do Terror à Comédia Global
Apesar de ter poucas histórias em quadrinhos, elas foram suficientes para conquistar fãs e, eventualmente, dar origem ao famoso filme de 1994 com Jim Carrey, que impulsionou ainda mais o sucesso do personagem nas HQs.
Inicialmente, o projeto do filme planejava ser fiel aos quadrinhos, uma obra de terror sombria focada nas mortes e vinganças. No entanto, foi alterado e se tornou a comédia que conhecemos e amamos. Em 1995, a história ganhou uma sequência em forma de desenho animado, também excelente, e um jogo para Super Nintendo, que ficou menos famoso devido à sua dificuldade extremamente elevada. Tentativas de uma sequência cinematográfica foram feitas em 2005, mas com a recusa de Jim Carrey, a produtora lançou “O Filho do Máskara”, considerado por muitos a pior sequência de um filme na história do cinema.
Existem muitas diferenças entre os quadrinhos e o filme. Embora personagens existam em ambos os universos, suas atitudes são completamente diferentes, o tom das histórias muda drasticamente, e a violência e a trama são outras.
Em 2014, o Máskara teve novas histórias, mas com uma temática completamente diferente das HQs antigas, mais alinhada com a personalidade do filme e do desenho, e foi chamado de Kit Big Mask.
A jornada de O Máskara, do artefato de magia tribal aos quadrinhos de terror e, finalmente, à ícone da comédia global, é uma prova da versatilidade e do impacto duradouro de um personagem que, de qualquer forma, sempre nos faz parar para assistir ou ler.
Compartihar: