A minissérie Ângela Diniz: Assassinada e Condenada, da HBO Max, revisita um dos crimes mais emblemáticos do país com maturidade narrativa e compromisso histórico. Em seis episódios, a produção constrói uma obra que vai além do true crime: humaniza Ângela, expõe estruturas de violência da época que perpetuam até hoje e devolve ao caso sua dimensão.
Episódio 1 –

O episódio de abertura é o mais luminoso. Apresenta Ângela como a mulher complexa, livre e contraditória de Minas Gerais, rompendo de início com a imagem estigmatizada do passado, que veio a torna-la a “pantera de minas”. A direção aposta em ritmo elegante e insinua, com delicadeza, a presença opressora do machismo na época. É um começo forte, que humaniza sem idealizar.
Episódio 2 –
O segundo capítulo mergulha, sem apelos, nas tensões e dilemas que Ângela enfrenta ao chegar no Rio e a tensão cresce nas pequenas situações e no silêncio, onde Marjorie Estiano entrega uma atuação afiada, equilibrando vulnerabilidade e resistência para a personagem.
Episódio. 3 –
Sem sensacionalismo, o terceiro episódio reconstrói as fragilidades da protagonista com precisão e respeito. É um capítulo que acerta ao não tratar Ângela como uma pessoa santa e ingênua mas que torna sua compreensão mais humana, não como espetáculo, mas como ponto de uma pessoa mal compreendida na época que vivia.
Episódio. 4 –
A série muda de tom ao expor como a imprensa e a sociedade transformaram a vítima em ré. É o episódio mais indignante e também o mais didático. A violência institucional e midiática se impõe, mostrando como características pessoais de Ângela foram usadas para justificá-la como culpada. A repetição de argumentos reforça o absurdo da época.
Episódio. 5 –
No capítulo mais denso, o tribunal ganha protagonismo. A dramatização do primeiro julgamento, em que Doca praticamente assume o papel de vítima, é desconfortável por definição. Há muita fala técnica, mas necessária para evidenciar como a “defesa da honra”, hoje inconstitucional, foi legitimada por um sistema jurídico profundamente machista.
Episódio. 6 –
O episódio final amplia o escopo e insere o caso na luta feminista. Movimentos de mulheres recuperam a narrativa, devolvem dignidade à Ângela e mostram como o crime impulsionou debates essenciais no país. O encerramento é emocional, político e atual: o Brasil mudou, mas não o suficiente. Se com as leis os homens já batem e matam, sem elas, eles irão fazer isso cada vez pior.
Apesar de trechos didáticos e de certa repetição, ‘Ângela Diniz: Assassinada e Condenada’ se destaca pela força das interpretações – especialmente de Marjorie Estiano, pela direção sensível e pela capacidade de reconstruir um capítulo decisivo da memória social brasileira. Mais do que revisitar um crime, a minissérie ilumina as estruturas que permitiram sua distorção e mostram porque o caso segue ecoando como um fantasma no Brasil de hoje. Uma obra necessária, contundente e profundamente relevante.
Os dois primeiros episódios já estão disponíveis na HBO Max, com lançamento semanal de novos episódios.
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