É bem provável que o cineasta Chad Stahelski e o roteirista Derek Kolstad tivessem pouca consciência do tamanho fenômeno que tinham em mãos quando iniciaram a franquia “John Wick”.
O longa original era um neo-western até um tanto modesto, mas bastante efetivo devido suas cenas de ação altamente coreografadas. Três anos depois chega o capitulo 2, que cimentou de vez o potencial desse universo expandindo toda mitologia por trás do personagem e trazendo cenas de ação ainda mais brilhantes. Duas sequências – e uma minissérie – depois, temos aqui o primeiro spin-off desse universo produzido para o cinema.
Em “Bailarina (2025)”, Ana De Armas vive Eve. Quando jovem, ela testemunhou o assassinato de seu pai, o desertor de um clã implacável de assassinos liderados pelo Chanceler (Gabriel Byrne). Órfã, Eve acaba sendo acolhida pela Ruska Roma – uma organização de origem russa apresentada pela primeira vez em “John Wick 3: Parabellum” (2019). Anos depois, Eve concluiu seu treinamento, partindo em busca de pistas para que possa finalmente consumar sua vingança.

É uma alivio poder dizer que Ana de Armas finalmente ganha uma chance de demonstrar toda sua fisicalidade e seu potencial como estrela de ação. Desperdiçada criminalmente em produções como “O Agente Oculto”, aqui seu exímio manejo facas, armas e dos punhos assumem o centro dos holofotes. Assim como o Wick de Reeves, sua Eve também é uma personagem de poucas palavras. Cabe então a De Armas extrair o máximo de caracterização dos momentos mais introspectivos.
Outra grande preocupação é se o nível das cenas de ação faria justiça ao altíssimo patamar estabelecido pela saga de John Wick. Fico feliz em anunciar que grande parte da equipe envolvida nesse departamento também está presente aqui, fazendo com que “Bailarina” traga alguns dos melhores momentos da franquia. O grande destaque fica para uma cena presente no clímax, que consiste em um duelo de lança-chamas que escala de maneira bastante empolgante. As cenas de ação na sua maior parte são todas bem decupadas e iluminadas. Mas é preciso admitir que alguns momentos se tornam meio turvos durante as cenas noturnas. No fim, a trama é bastante simples e apenas funciona como uma base para sustentar uma sucessão de set pieces.
Ironicamente um dos problemas mais evidentes na produção acaba sendo a presença do lendário Baba Yaga. Reeves está carismático como sempre, mas é difícil não notar como toda cena envolvendo Wick acaba soando um tanto gratuita. Não é difícil perceber que sua presença foi expandida significantemente após refilmagens.
Até existe um esboço de um paralelo entre a trajetória de Eve e Wick, mas que nunca é de fato explorado. Em “Bailarina” Wick não tem tempo bastante para ser um personagem realmente integral na jornada de Eve, não adiciona nada além de curtos momentos de fanservice, o que demonstra talvez uma falta de fé dos realizadores no projeto.