CRÍTICA | HISTÓRIAS QUE É MELHOR NÃO CONTAR
Rigor narrativo reciclável mata a comédia que devia ser romântica.
Cesc Gray utiliza um dos recursos mais curiosos da comédia, que é a comédia coletiva. Amarra várias histórias em uma sequência que parece engajar algum tema em comum e tenta proporcionar faíscas de diversão entre as concordâncias ou discordâncias humorísticas entre cada uma dessas pequenas histórias enfileiradas. Em seu Histórias Que é Melhor Não Contar, um filme que aparenta subverter a lógica de amores mais cotidianos possíveis, se finca num olhar bem rigoroso e limitado perante as várias possibilidades de criar algo mais cativante entre o enorme número de personagens e ainda grandes nomes do cinema espanhol, como Anna Castillo ( El Olivo ) por exemplo.
A grande quebra de produtividade qualitativa desse filme é justamente sua imensa falta de carisma. Sua especulação narrativa é criar uma ideia básica de sermões sinceros que acabam sendo úteis ou destruidores de relacionamentos, mas o desenrolar disso tudo, além de bastante óbvio, não tem energia o suficiente para se destacar.
A primeira história acaba sendo a melhor porque ao menos constrói um atrito em suas situações, que naturalmente já se encaixa numa diversão subversiva pelo espaço que atua : uma mulher tentando esconder um amante em sua própria casa do marido, com direito á várias indecisões e atitudes instintivas realmente interessantes.
Mas já a partir da segunda história, que começa com um relacionamento acanhado e influenciado por uma amizade indecisa, o filme esconde o humor em uma dimensão inferior, onde fica praticamente impossível acessa-lo. Cesc Gray tenta partir do absurdo das situações, mas elas próprias parecem ser bastante naturais. Então o que poderia ajudar eram as gags ou a dinâmica dos diálogos, mas tudo é produzido em uma verborragia sem sal e com definições super óbvias.
Ele se torna rigoroso ao reciclar a mesma fatoração crônica em todas as histórias que conta, que acaba virando um estudo sobre os sentimentos e expressões que muitos acabam reprimindo ou escondendo, mas que fariam total diferença em um relacionamento. Para o bem ou para o mal.
Mas tanto rigor e uma desnecessária bajulação de diálogos desalmados de uma referência humorística mínima de subversão, o filme acaba se jogando mais no campo da potencialidade detectada, do que de fato da execução.
Histórias Que é Melhor Não Contar se estiliza como uma anedota modesta corriqueira, com uma trilha sonora suave, mas ao mesmo tempo, divertida, uma construção de imagem que focaliza sempre nos rostos dos atores para indicar uma majoritária atenção ao drama de casal e até um apelo á piadas sexuais aqui e acolá.
Mas é bastante inflexível quanto ao modelo que segue, e acaba se tornando um acordo tedioso entre os acontecimentos mais naturais possíveis de um relacionamento- como traição, desilusão e indecisão- com uma falha comprometedora da parte criativa ao fazer do humor algo genuinamente engraçado.
NOTA FINAL
2/5
★ ★
Autor: Flávio Júnior
Agradecemos a Pandora Filmes pelo convite!
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