“O Castigo” é uma obra feita de forma simples, mas que apresenta uma forte reflexão. Dois pais castigaram seu filho após uma malcriação em uma viagem de carro, o deixando à beira de uma floresta. Por minutos poucos, os pais saem para dar um susto na criança, mas, quando retornam, o filho não está mais lá. O filme gira em torno do desaparecimento do menino e da expectativa de sua volta, mas revela-se, na verdade, ser muito mais sobre a vida e o relacionamento falido do casal do que sobre o próprio sumiço da criança.
É nesse cenário que o diretor Matías Bize coloca o espectador e conduz uma narrativa. O que era para ser o castigo do menino torna-se o castigo dos pais e, consequentemente, de quem assiste à obra. O longo começa de forma arrastada, sem objetivo de situar muito bem a sua história. É um filme onde poucas coisas acontecem, e as informações demoram para serem demonstradas. O diretor opta pela escolha de fazer um filme mais pé no chão, sem grandes acontecimentos ou momentos extremamente marcantes.
A fotografia de Gabriel Díaz é, no mínimo, ousada. A escolha de câmera na mão e um único plano-sequência deixa o acontecimento muito mais realista, fazendo o espectador se sentir parte da história, como se também estivesse esperando o retorno de Lucas ou fosse o próprio observado a tudo aquilo. Mas acaba que a ideia de um único plano, igual a muitos momentos do filme, deixando uma obra com vazios e perdas de momentos que poderiam faze-la mais íntima. A tensão acaba sendo perdida, e a obra, por sua própria escolha estilística, não prende o espectador em todos os momentos.
Coral Cruz escreve um roteiro livre de qualquer ideia de julgamento; é uma história fria e real. O roteiro dá bastante espaço e precisa muito da qualidade de seus atores, afinal, passa-se todo em apenas um ambiente e fica entre a corda bamba de ser, ou não, algo tedioso. Antonia Zegers (Ana, a mãe) entrega um ótimo trabalho — não à toa ganhou prêmios como melhor atriz. Vive um personagem que cresce, começando com ações que não condizem nem um pouco com a realidade, conseguindo até o desprezo do espectador, mas vira o jogo e encerra o longo com um tapa na cara. Néstor Cantillana (Mateo, o pai), de início, parece ser alguém sensato, um ótimo pai e o oposto da mãe, mas, ao decorrer da obra, as coisas mudam, e é mostrado que, na verdade, ele só é menos cansado do que a esposa porque está mais ausente.
A obra se revela uma metáfora. Na verdade, o problema da relação não é só na criança, mas nos pais também. Não por serem ruínas, mas por viverem um casamento que já não os agrada mais, ou uma situação que nunca desejaram. Ana tem uma crise consigo mesma, e o filme é o retrato de apenas um momento de sua vida. “O Castigo” é uma amostra à flor da pele do que é mãe, cospe na idealização e diverge da ideia de que é algo maravilhoso. E Ana, é, na verdade, um símbolo: ela representa uma mãe que vive diariamente nesse castigo, que para si, é a maternidade.
Em conclusão, “O Castigo“, de Matías Bize, é uma obra que divide muitas opiniões. É um filme realista, que traz uma reflexão forte e que perdura na mente do espectador. Ao mesmo tempo, é uma obra arrastada demais, com poucos acontecimentos e que deixa sua melhor parte para o final, acabando de forma abrupta e sem ter explorado suas nuances.
NOTA FINAL
2,5/5
★ ★ ★
Autor: Vinycius Rodrigues
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