No lançamento de Rebel Moon: A Menina do Fogo, eu descrevi o primeiro capítulo como um confuso e ridículo “team-up”, carente de personalidade e excessivamente dependente dos artifícios de Zack Snyder.
Defini o filme como uma ação desorientada e mal comunicada, com uma narrativa áspera que não ajudava na construção do mundo. Essa foi a impressão inicial de uma franquia que Snyder tentou liderar na Netflix, mostrando um diretor sem controle sobre sua história, resultando em exageros cênicos sem qualidade narrativa.
Desde o início do marketing, Snyder indicou que Rebel Moon teria versões do diretor que expandiriam a história e apresentariam o mundo de maneira mais completa. O novo título, Cálice de Fogo, sugere uma narrativa mais ampla, que na versão original era apressada e cheia de lacunas. Nesta versão estendida, uma hora a mais preenche essas lacunas, proporcionando uma progressão mais coesa e menos meramente estética.
A história geral permanece a mesma, mas as invenções criativas de Snyder parecem se ajustar melhor à premissa básica de uma luta proletária contra um regime colonialista, com um mito grandioso por trás.
As cenas adicionais mostram um cuidado maior com as motivações de Kora (Sofia Boutella) em liderar insurgentes contra a opressão do Mundo Mãe, supervisionada pelo sádico almirante Noble (Ed Skrein). Isso redime, em muitas esferas, a irritante unilateralidade que afetou a personagem no corte inicial. Aqui, há uma justificativa mais forte, vinda dos diálogos mais reveladores com seu pai adotivo, Hagen (Ingvar Sigurdsson), seu luto e a simbologia da culpa, proporcionando um preceito existencial mais bem formulado nesta versão mais longa.
Kora e o fazendeiro Gunnar (Michiel Huisman) formam um time de recrutadores de guerreiros para lutar pelo vilarejo oprimido. Embora ainda seja um “team-up” com suas fragilidades, os personagens são melhor introduzidos, dando mais significado às cenas de ação em que participam. A versão inicial era apressada e fragmentada, mas com esse ajuste narrativo, a equipe de rebeldes ganha maior profundidade e conexão com o universo de Rebel Moon. Os guerreiros compartilham uma necessidade comum de se opor ao regime do Mundo Mãe.
Embora eu ainda tenha reservas em relação ao uso da iluminação por Snyder na era Netflix, é inegável que Rebel Moon possui um aspecto visual bonito. A versão estendida melhora a qualidade da imagem e a utilização dos elementos fantasiosos, criando uma identidade que mistura tecnologia com arcadismo. Esse hibridismo estético se torna mais perceptível com a melhora do enredo e o envolvimento mais concentrado no universo de Rebel Moon.
Além disso, o contorno fantasioso que remete à literatura clássica enriquece a introdução para a parte 2, dando mais significado ao simpático robô Jimmy, dublado por Anthony Hopkins. Jimmy desenvolve uma subcamada prosaica ao longo do filme, refletindo a tentativa de Snyder de apresentar o universo de Rebel Moon por meio de seus símbolos.
O corte do diretor resolve muitos problemas da versão original, especialmente no que diz respeito ao enredo. É impressionante como um texto pode se transformar de bom para ruim com uma edição mal feita. Rebel Moon sempre teve potencial para lidar com sua proposta genérica de ser uma épica espacial com mitologia steampunk, mas a edição inicial prejudicou a história, tornando-a ridícula. Na versão estendida, o enredo é coeso o suficiente para entreter.
Ainda assim, há problemas. A própria história tem apelos sem recompensa, como a sugestão de uma trama envolvendo o personagem Aris (Sky Yang), que é descartada. Existem cenas de ação exageradas que desviam a seriedade para um tom cômico não planejado, e a construção do mundo ainda precisa de ajustes, apesar da melhora considerável. A fragilidade da obra é evidente ao tentar explorar os estados emocionais dos personagens. O romance, por exemplo, é muito piegas e sua tentativa de enfatizar o sexo como um dispositivo não avança no roteiro.
No entanto, gostei bastante da versão estendida de Rebel Moon. Ela funcionou como uma fagulha de esperança para Snyder, mostrando que ele pode ter um bom controle sobre essa referência elementar e desinibida de Star Wars, apesar dos vários problemas que a versão estendida parcialmente resolveu. A crítica à estratégia de lançar uma versão estendida é válida, pois poderia ter sido apresentada desde o início.
Essa estratégia prejudicou a imagem do filme e afetou negativamente o engajamento do público. A decisão de atingir um público que o diretor deixa claro não ser seu foco, com uma estética mais sanguinolenta e sexo explícito, revelou-se irracional tanto para o streaming quanto para o diretor.
Mas, com ou sem público, Rebel Moon finalmente recebeu sua história definitiva, que aprimora o enredo e se torna mais grandiosa em seu mito fantástico de conquista e monarquia, agora enriquecida com heroísmo, epicidade e um interessante arcadismo tecnológico, além de ser, claro, bastante fabulosa.
NOTA FINAL
4/5
★ ★ ★ ★
Autor: Flávio Júnior
Ficha técnica
Título: Rebel Moon Parte 1: Cálice de Sangue (Corte do Diretor)
Ano de Lançamento: 2024
Classificação Indicativa: 18 anos
Duração: 3h 24m
Sinopse: A saga de ficção científica de Zack Snyder se expande com Capítulo 1: Cálice de Sangue. O corte do diretor mostra a busca de guerreiros para defender uma lua pacífica.
Wesley Aguiar
Redator, cinéfilo de bom gosto e muito fã do Dennis Villeuneve. Sou aquele que se encantou assistindo Duna e foi louco o suficiente para platinar Cuphead.
1 Comentário
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