Review The Midnight Walk (PC): Desenvolvido pela Moonhood, estúdio fundado por Olov Redmalm e Klaus Lyngeled (os mesmos criadores de Lost in Random), The Midnight Walk é uma experiência diferente. Aqui, mergulhamos em um mundo sombrio e poético, inteiramente feito de argila, ao lado de personagens estranhos, mas cativantes.
Jogamos como The Burnt One, uma figura misteriosa que literalmente se desenterra para iniciar uma jornada de autodescoberta. Acompanhado por Potboy — uma criaturinha com uma chama acesa na cabeça — embarcamos numa aventura que mistura fábula, terror e arte feita à mão.
De primeira vista, o jogo já impressiona — e a experiência, ao longo da caminhada, consegue ser ainda melhor.
ᐳ Uma jornada na escuridão
Não é de hoje que a fantasia sombria conquista o público com narrativas carregadas de emoção, tensão e significado. Em The Midnight Walk, esse estilo ganha mais um capítulo memorável. O novo título da MoonHood nos coloca na pele do Burnt One, uma figura misteriosa que desperta em um mundo onde o sol desapareceu, deixando apenas trevas para trás. Ao seu lado está o Potboy, um pequeno vaso que carrega o que pode ser a última chama de luz.
A trama é construída como uma fábula melancólica, que mistura a simplicidade dos contos infantis com a profundidade emocional dos clássicos mais sombrios — algo que lembra obras como Coraline e Little Nightmares, mas com uma alma própria. Durante a caminhada por florestas apagadas e desertos congelantes, os dois encontram criaturas bizarras, resolvem conflitos de habitantes excêntricos e enfrentam ameaças que refletem muito mais do que apenas monstros físicos.
Com diálogos bem escritos e uma narração que parece ter saído de um livro antigo, a história se destaca por sua sensibilidade. E mesmo que o jogo não tenha localização em português, a mensagem sobre luz, perda e recomeço ainda chega com força — com momentos sinceramente tocantes que ficam na memória.
ᐳ Tudo feito à mão — literalmente
O grande diferencial aqui é o visual. Tudo — personagens, cenários, objetos — foi esculpido em argila e digitalizado em 3D. O resultado é um mundo que parece saído de um sonho estranho. As animações em estilo stop-motion reforçam essa sensação: estamos dentro de um pesadelo artesanal, moldado com paciência e detalhes impressionantes.
É difícil acreditar que estamos jogando algo em tempo real. A sensação é a mesma de assistir a uma animação em stop-motion como Mad God, de Phil Tippett. Isso se deve à dedicação absurda da Moonhood, que modelou mais de 700 itens manualmente. O visual mistura o analógico com o digital de um jeito mágico — lembra Cuphead, Harold Halibut ou Claymates, mas com uma identidade totalmente própria.
ᐳ Visual lindo e músicas que tocam a alma
O estilo visual pode causar certo estranhamento para quem está acostumado com gráficos mais convencionais, mas é justamente aí que mora o charme. Cada detalhe carrega textura, imperfeição e alma. Tudo parece ter sido feito com carinho — e foi mesmo.
A escolha da Moonhood por utilizar argila como base para a construção de todo o universo não é apenas uma decisão estética — é narrativa também. Cada rachadura nas esculturas, cada textura imperfeita ou modelagem estranha reforça a sensação de que estamos em um mundo frágil, mas vivo. O jogo faz questão de mostrar que foi feito à mão — e isso transparece em cada detalhe
A direção de arte se inspira em teatro de sombras, expressionismo alemão e até no cinema mudo. Há trechos que lembram diretamente O Gabinete do Dr. Caligari, com silhuetas dramáticas e uma iluminação carregada. Isso dá ao jogo uma atmosfera única, que muda a cada capítulo, mas sempre mantendo um tom coeso e cativante.
A trilha sonora merece um destaque à parte. Já no menu inicial, a música nos coloca no clima melancólico do jogo. Cada faixa encaixa perfeitamente nas cenas e intensifica as emoções. É uma trilha que se sente no peito.
ᐳ Personagens inesquecíveis
Os personagens são outro ponto alto. Cada um tem personalidade própria, design marcante e uma história envolvente. Um destaque especial vai para o Alfaiate, do capítulo 3 — um personagem que consegue ser assustador, poético e emocional ao mesmo tempo. Um dos momentos mais fortes da experiência.
Apesar do clima sombrio, o jogo equilibra tudo com toques de leveza. Potboy, por exemplo, traz humor e ternura. Ele é essencial para a jornada, tanto mecanicamente quanto emocionalmente. The Midnight Walk é descrito pelos criadores como um “cozy horror” — e essa definição faz total sentido. É um terror que abraça, não afasta.
ᐳ Jogabilidade e Imersão
A ambientação é digna de uma fábula sombria. O jogo lembra obras como Over the Garden Wall ou O Estranho Mundo de Jack, com criaturas bizarras e uma aura melancólica. Cada capítulo parece um conto separado, com desafios únicos e personagens excêntricos.
A jogabilidade vai além da exploração: há combates, puzzles e até chefes assustadores — todos animados com o mesmo capricho visual. Um detalhe curioso é a arma do protagonista: fósforos acesos, usados tanto para iluminar quanto para enfrentar inimigos ou resolver quebra-cabeças.
E em meio à escuridão, o som também ganha protagonismo. O jogador pode literalmente fechar os olhos para se guiar apenas pela trilha sonora e efeitos binaurais, num recurso que potencializa a tensão e a imersão com fones de ouvido. Essa função transforma o simples ato de escutar em uma mecânica essencial de navegação e atmosfera.
O som também ganha um papel crucial. Em alguns momentos, podemos fechar os olhos e navegar apenas pelo áudio, aproveitando efeitos binaurais que elevam a imersão — especialmente com fones de ouvido. Uma ideia simples, mas muito bem executada.
O único ponto negativo é a ausência de localização em português. Para um jogo tão narrativo, isso pode afastar parte do público brasileiro. Uma tradução seria muito bem-vinda numa atualização futura.
ᐳ Um passo à frente da Moonhood
A Moonhood já tinha mostrado seu talento com Lost in Random, mas aqui o salto criativo é claro. The Midnight Walk é mais pessoal, mais ousado e mais autoral. Segundo os desenvolvedores, o projeto nasceu de um momento difícil, uma espécie de crise criativa. E foi justamente ao retomarem seus antigos hobbies — argila e quadrinhos — que surgiu Potboy, e com ele, a faísca para esse jogo encantador.
Segundo os próprios criadores, a ideia para o jogo surgiu durante uma crise criativa pós-Lost in Random. Klaus voltou a esculpir em argila, Olov retomou a criação de quadrinhos — e desse reencontro com a arte surgiu Potboy, o personagem que acendeu (literalmente) a chama da inspiração que deu origem a The Midnight Walk.
ᐳ Veredito
The Midnight Walk é uma das experiências mais autênticas e marcantes de 2025. O visual feito à mão, a narrativa simbólica e a trilha sonora emocional criam um pacote que vai além do entretenimento — é arte em movimento.
Pode não agradar a todos por causa da estética incomum, mas quem der uma chance vai encontrar uma obra corajosa, sensível e surpreendente. Um daqueles jogos que ficam na memória por muito tempo.
THE MIDNIGHT WALK (2025)
- Estética única
- Narrativa profunda
- Trilha sonora lindíssima
- Visual pode não agradar a todos
- Sem localização em português Brasil
Fomos gentilmente recebidos com uma cópia pela distribuidora para esta análise. Esta review reflete nossa opinião sincera e honesta sobre o jogo, sem influências externas.
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