Além de ser um pacato professor universitário, Gary também trabalha no departamento de polícia atuando como um falso assassino de aluguel. Tudo muda quando essas vidas paralelas ameaçam colidir após o seu envolvimento com uma potencial cliente.
E se o self for apenas uma ilusão? Se a rotina de cada indivíduo for apenas uma série de performances sociais vazias? É possível mudar as máscaras que criamos para nós mesmos? É possível ser íntimo de alguém sem conhecer a si próprio? Essas e outras questões existenciais que norteiam o brilhante neo-noir de Richard Linklater (Antes do Amanhecer).
Baseado livremente na vida de Gary Johnson, que trabalhou por um tempo para o Departamento de Polícia como um falso assassino afim de desbaratar diversas conspirações de homicídio, o longa estrelado e co-escrito por Glen Powell (Top Gun: Maverick) consegue fazer uma intercessão perfeita entre a comédia existencial, o romance e o suspense policial.
Powell se reúne com Richard Linklater quase 8 anos após ” Jovens, Loucos e Mais Rebeldes”, e tem aqui o seu melhor papel até o momento – além de responsável por uma das grandes performances do ano. O processo de metamorfose de Gary de pacato professor até o charmoso (falso) matador Ron é impressionante. Uma transição de escoteiro para anti-herói em questão de segundos.
Cada uma das diferentes personas que Gary assume para ludibriar seus alvos oferece não só momentos hilariantes, mas também uma chance de revelar a forma como ele se dedica a destrinchar a psicologia humana através dessas interações.
Adria Arjona está igualmente empolgante. A atriz parece finalmente ter encontrado um projeto de qualidade em Hollywood. Sua Maddy Masters começa como uma jovem esposa em busca uma solução drástica para se livrar de um casamento abusivo. Não demora tudo para a personagem mostrar novas facetas se transformar de donzela indefesa a charmosa Femme Fatale.
Sua química como Powell é eletrizante e muda completamente o tom do filme a partir do segundo ato. Além disso ela se mostra com um timing cômico tão afiado quanto seu parceiro de cena.
Maddy aliás se torna essencial na exploração de um dos temas principais do longo: O potencial libertador da fantasia.
O desejo se torna o mote de Gary através do seu romance com Maddy. Prazer e perigo andam lado-a-lado e ainda assim as implicações morais das escolhas de Gary não são deixadas de lado.
A direção charmosa de Linklater deixa todas rolando no fundo enquanto traz a luz o melhor do seu elenco. O humor vem de reações e inflexões. É engraçado sem deixar de ser tenso. Poucos cineastas conseguem transitar entre tons de forma tão imperceptível para espectador.
Talvez o maior triunfo de “Assassino por Acaso” esteja na forma como sua brilhante estrutura aparenta falsa sensação de leveza, apenas para deixar o público desarmado para suas surpresas de digerindo após a sessão e futuras revisões. No fim, parece que assistimos um truque de mágica.
O filme estreia hoje (12) nos cinemas do Brasil.
NOTA FINAL
5
★ ★ ★ ★ ★
Autor: Raphael Aguiar