Poucas vezes um filme deixa marcas tão profundas quanto Ainda Estou Aqui (2024), dirigido pelo consagrado Walter Salles. Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, a obra não apenas revisita um dos períodos mais sombrios da história brasileira – a ditadura civil-militar – mas também apresenta uma experiência cinematográfica que transcende o simples ato de assistir a um filme.
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Salles entrega uma narrativa sóbria ao retratar a história de Rubens Paiva, deputado perseguido, exilado e morto durante o regime, e de sua família, especialmente de sua esposa Eunice Paiva. Interpretada de forma inesquecível por Fernanda Torres, Eunice se torna o coração do longa. Sua performance é um retrato fiel e poderoso da resiliência feminina em tempos de repressão. Torres opta por uma interpretação contida, que transmite a dor e a força de sua personagem com um equilíbrio perfeito de sutileza e intensidade.
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Outros membros do elenco brilham com igual força. Luiza Kosovski, como Eliana, e Guilherme Silveira, como Marcelo em sua infância, entregam atuações profundas, carregadas de magnetismo. Além disso, Selton Mello e Fernanda Montenegro – mesmo em uma breve, porém memorável aparição – reforçam o peso dramático do filme.
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Salles conduz a narrativa de forma a não apenas denunciar os horrores da ditadura, mas também capturar a dimensão humana e emocional dos personagens. O sofrimento e a luta de Eunice Paiva após a perda do marido transformam-se em uma jornada por justiça e memória, tocando em temas que ainda ressoam na sociedade brasileira.
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Visualmente, o filme nos transporta ao Rio de Janeiro dos anos 1970, com cenários como Copacabana e o Pão de Açúcar que compõem um retrato vivo da época. A trilha sonora é outro destaque, com músicas como Como Dois e Dois (Roberto Carlos) e Fora da Ordem (Caetano Veloso), que não apenas enriquecem o contexto histórico, mas também intensificam a carga emocional da obra.
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Ainda Estou Aqui não se limita a revisitar fatos históricos – ele coloca o espectador no centro da intimidade de uma família que enfrentou perdas irreparáveis. Salles nos conduz por uma jornada de luto, resiliência e resistência, com uma sensibilidade que toca profundamente o público.
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Esta é uma obra que merece ser reconhecida globalmente, não apenas por sua relevância histórica, mas também por sua excelência cinematográfica. Seria justo e necessário vê-lo entre os indicados ao Oscar, para que mais pessoas ao redor do mundo conheçam esta história.
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Walter Salles entrega mais do que um filme – ele apresenta uma experiência que ecoa na alma do espectador. Ainda Estou Aqui é, sem dúvida, um dos grandes destaques de 2024 e uma verdadeira joia do cinema brasileiro.
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NOTA FINAL
4.5/5
★ ★ ★ ★ ★
Autor: Wesley Aguiar
Ainda Estou Aqui (2024) já está em exibição nos cinemas.
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Wesley Aguiar
Redator, cinéfilo de bom gosto e muito fã do Dennis Villeuneve. Sou aquele que se encantou assistindo Duna e foi louco o suficiente para platinar Cuphead.