CRÍTICA: A MEMÓRIA DO CHEIRO DAS COISAS
Dirigido por António Ferreira, “A Memória do Cheiro das Coisas” (2025) falha em quase tudo o que se propõe a fazer – começando pelo roteiro.
Extremamente estereotipado, o filme expõe o fato de que Portugal sente um prazer imenso em pisar na cabeça do Brasil — e percebe-se. O roteiro possui diversos comentários e diálogos mal feitos que foram nitidamente adicionados apenas com o intuito de difamar a cultura brasileira – e o país como um todo – e nada mais, pois não acrescentam em nada à narrativa, apenas a apodrecem ainda mais.
A fotografia, apesar de bonita, parece beber do suco do camp, sem nunca compreender o próprio reflexo. Há um esforço visível em construir quadros esteticamente chamativos, mas a linguagem visual não conversa com a proposta dramática. As cores e a composição são excessivas, destoam do tom introspectivo que o filme tenta sustentar e, ao invés de fortalecer a história, apenas denunciam a falta de coesão entre forma e conteúdo.
O roteiro é mal estruturado e induz o espectador a sentir pena de um protagonista que, além de velho e amargurado, é profundamente preconceituoso. Pior ainda é o tratamento dado à única personagem negra, escrita para servir como catalisadora do perdão, como se sua função fosse absolver o homem que mais a humilha. Essa dinâmica cruel e preguiçosa reforça estereótipos coloniais e desmonta qualquer tentativa de complexidade moral que o filme pareça desejar.
No fim das contas, A Memória do Cheiro das Coisas tenta ser profundo, mas é raso e mal feito. A única coisa que o salva do completo desastre é a atuação divina do protagonista – José Martins -, que carrega nas costas um roteiro desleixado, uma direção sem rumo e uma narrativa que parece não entender sobre o que quer falar. O resto é pura porcaria.
Um filme que não vale a pena ser visto — nem pela curiosidade, nem pela estética. É um exercício de pretensão disfarçado de sensibilidade, e termina cheirando mais a arrogância do que a arte.
NOTA FINAL
2/5
★ ★
Autor: Alexandra Coral
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