Ainda temos o Amanhã” é o novo longa italiano dirigido por Paola Cortellesi que já acumulou, somente em território italiano, 5 milhões de espectadores, superando até mesmo Barbie em seu lançamento no local.
Com essa notoriedade e grande escopo, recentemente o filme foi distribuído em diversos países e festivais de cinema. Mas, mesmo sendo tão falado, será que é tão bom assim? Na trama é acompanhada a mãe de casa Delia que sofre diversos abusos em seu dia a dia tanto pelo marido, quanto pelas suas condições, seu sogro e seus 2 filhos, com somente uma filha para a apoiar.
Tendo em mente sua situação, Delia tenta escapar daquela rotina com as pessoas que aparecem em seu dia a dia e que estão dispostas a lhe ajudar.
O drama de uma mulher no escuro beco da vida. É sobre isso que se trata a obra. Sem quase ninguém para a ajudar, ela se esgueira em busca de condições melhores.
A fotografia escolhida, muito por conta tanto da época que o filme retrata, uma Itália antes da permissão do sufrágio feminino, é uma chapada e em preto e branco, remetendo, de forma proposital, a desenhos animados e em uma época em que, supostamente, na visão de certas pessoas e grupos, a vida era mais simples e feliz.
Com esse tom irônico sendo sobrepujado na obra já na fotografia, o roteiro não deixa para trás. A obra começa com o oposto de violência, uma música feliz ressoa no ar, porém, com somente um tapa na face de Delia pelo seu marido, o espectador se sobressalta pela terrível circunstância, contudo, a trilha sonora feliz se expande nitidamente por conta do ato rudimentar.
A acidez não falta nesse filme, com um humor que retratado em um desenho ou algo fora do real, poderia até ser cômico, mas que, ao aplicado na vivência diária, como na obra, chega a perturbar pelo sarcasmo e as contradições em um geral. Conseguindo levar o mais pesado tema, em uma piada que retrata a hipocrisia saudosista de aparentes tempos melhores.
Entretanto, não somente a acidez performa nessa produção, tudo é construído como um escape de Delia daquele lugar. É acompanhada a jornada da heroína para ocorrer a quebra de sua rotina. O tom cínico que toma conta dos primeiros 1 ato e meio do longa tem que ser quebrado pelo melodrama que lentamente toma a narrativa.
O amor da mulher frustrada começa a se fazer pelo ambiente. Ela se questiona se sua filha vai seguir o mesmo rumo de abusos e, ao final, se revolta contra todo o sistema. “Ainda temos o Amanhã” é isso. Um grito de rebeldia feminista em épocas que são ditas como boas, mas nunca questionadas aquelas que sofreram os abusos, fazendo deste longa uma libertação e emancipação feminina em tempos colocados como simples.
O longa estreia nesta quinta (04) nos cinemas do Brasil.
NOTA FINAL
3,5/5
★ ★ ★
Autor: Lucas Leite Tinoco