CRÍTICA: A HORA DO MAL
Em 2022, o nome Zach Cregger causou um impacto no gênero de horror na direção de “Noites Brutais”. O longa alçou imediatamente o cineasta (e comediante) americano ao clube dos talentos mais promissores no cinema de gênero. Felizmente, toda aquela irreverência estampada no conto macabro sobre um Airbnb cheio de segredos se repete aqui. “A Hora do Mal” prova que o buzz não veio por acaso – mas que foi apenas o começo de um projeto bem mais ambicioso.

A trama começa com uma premissa irresistivelmente intrigante. Na pacata cidade de Maybrook, 17 crianças fugiram de suas casas exatamente às 2h17 da madrugada, sem deixar rastros ou qualquer prova além de algumas filmagens de câmeras que mostram-nas correndo para a escuridão com os braços abertos. A única conexão clara é que todas elas faziam parte da mesma turma no colégio da cidade. Após um mês sem respostas, todos parecem tentar achar um culpado por trás do episódio, por mais improvável que seja. Entra, então, o mosaico de personagens que nomeia os 6 capítulos que compõem a trama.

Primeiro, temos a jovem professora Justine (Julia Garner, em sua primeira grande performance desde o fim de “Ozark”). Apaixonada por lecionar, Justine é constantemente julgada pelo seu passado controverso, que envolve vício alcoólico e casos extraconjugais. Archer (Josh Brolin), o pai de uma das crianças desaparecidas, tenta provar a todo custo que Justine é a chave para entender esse caso. Paul (Alden Ehrenreich), um impulsivo policial que mantém uma conexão problemática com Justine. Alex (Cary Christopher, uma revelação e o coração do ato final), o único aluno da turma que não sumiu. Marcus (Benedict Wong), o reitor do colégio que tenta controlar as tensões entre os pais dos alunos. E, por último, temos James (Austin Abrahms), um carismático viciado que busca novas formas de ganhar dinheiro.

Revelar mais que isso pode prejudicar sua experiência. Assim como “Noites Brutais”, “A Hora do Mal” se beneficia desse elemento surpresa. Seus capítulos brincam com a linearidade do tempo, dissipando e intensificando a tensão constantemente, sem nunca esquecer de fornecer novas informações sobre cada peça desse mistério. É um formato narrativo que realmente injeta mais humanidade na história, transformando a cidade em um microcosmos de paranoias e vulnerabilidades.
À medida que cada um dos núcleos converge elegantemente até o seu clímax brutal, o texto de Cregger se preocupa em ressaltar como nenhum ponto de vista é mais importante que o outro. É interessante, por exemplo, como a investigação de Justine e Archer se assemelham, apesar da animosidade entre eles. São esses paralelos que enriquecem a narrativa. Ninguém consegue enxergar todas as peças do quebra-cabeça além do espectador.

Em termos de direção, o cineasta se mostra igualmente habilidoso, principalmente no que diz respeito ao domínio da atmosfera. Embora existam um ou outro jump scare, o horror aqui acaba sendo bem mais íntimo. O longa abre com uma narração, feita por uma jovem moça em um tom de sussurro, que confere uma aura de lenda urbana. Apesar disso, nunca deixa de lado a oportunidade de demonstrar um senso de humor macabro. Quando a figura vilanesca é finalmente revelada, a forma como o terror e o cômico se complementam fica ainda mais evidente. Essa ameaça se torna uma presença folclórica, conferindo ainda mais simbolismo à trama.

Vale mencionar o trabalho de direção de fotografia de Larkin Seiple (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo), que ajuda a dar vida à visão de Cregger, criando uma série de imagens desconfortáveis que causam um frio genuíno na espinha. A atmosfera surreal da cena que retrata a fuga das crianças, que abre o longa, é especialmente memorável e parece ter saído diretamente de um pesadelo.
Em “A Hora do Mal”, Zack Cregger utiliza o subúrbio americano para explorar de forma meticulosa a ruína dos nossos relacionamentos interpessoais. O mosaico de personagens quebrados e atormentados consegue manter o fascínio dessa premissa do começo ao fim. No seu segundo longa, Zach Cregger já se posiciona como uma voz única no horror.
NOTA FINAL
4/5
★ ★ ★ ★
Autor: Raphael Aguiar
Agradecemos a Warner Bros. pelo convite1
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