Ainda Somos Os Mesmos é um grande episódio de novela com uma duração de uma hora e meia. Ofusca ótimos atores com péssimas escolhas da trilha sonora e efeitos SFX.
A história baseada em fatos reais acompanha Gabriel, um jovem que está fugindo do exército chileno após o golpe de estado de Pinochet de 1973. Ele encontra abrigo na embaixada argentina e tenta sobreviver a todo o caos causado pelos militares enquanto seu pai tenta resgatá-lo.
Um dos pontos fortes do filme é seu design de produção, que acerta em cheio em passar toda a sensação de vazio e terror do Chile de 1973. Figurinos e cenários são bem trabalhados e ricos em detalhes que o espectador pode ir pegando ao longo da trama.
Em questão dos outros quesitos técnicos e artísticos, todo o resto do filme deixa a desejar.
A fotografia é algo simplório e tende a clichês clássicos de novelas brasileiras, com um exagero enorme em ângulos e planos retos e longos nas faces dos personagens. Existem algumas trufas durante o filme quando o foco é um cenário grande e amplo, mas de resto, é tudo muito “novela das nove”.
A edição e montagem das cenas é confusa e absurdamente picotada, alternando nos piores momentos entre os núcleos dos personagens, não dando tempo para o espectador reagir ou sentir algo com um acontecimento. A péssima montagem também acaba fazendo uma junção de cenas e fatos que muitas vezes é incompreensível para o espectador, além de diversos cortes rápidos desnecessários para mostras a reação dos atores a situações que, em maioria, são supérfluas ao assunto principal do filme.
Digo com facilidade que o maior problema do filme são as trilhas e efeitos sonoros. Enquanto as trilhas são basicamente compostas por músicas genéricas encontradas em sites marketplace que sempre terminam com um impacto reverberado, na intenção de causar choque no espectador, os efeitos sonoros também são todos do tipo de impacto, sempre sendo usados em momentos de revelações ou desfecho de problema mínimos e em finais de planos, antes da troca de núcleo ou local da cena.
Além dessa ser uma característica primordial das novelas brasileiras, o problema aqui é a excessiva repetição desse tipo de trilha e efeitos, e os momentos em que são colocados. Momentos nada impactantes, como quando Carla (Carol Castro) tenta animar e brincar com uma criança em meio a toda aquela situação caótica, acabam recebendo uma trilha sonora assim. Alta, genérica e que tenta causar impacto no espectador.
Existem momentos em que a trilha sonora acaba até ofuscando a atuação do ótimo elenco do filme, que são outro ponto alto aqui. Porém, apesar de termos boas atuações, não conseguimos nos conectar totalmente com o filme. Isso devido a trilha sonora e efeitos repetitivos e foras do tom, a fotografia novelista, a edição picotada e a montagem confusa.
Ainda Somos Os Mesmos usa e abusa de clichês audiovisuais brasileiros da TV para, talvez, tentar aproximar o espectador, mas acaba se tornando um episódio de novela tediante sobre o golpe de estado do Chile de uma hora e meia.
NOTA FINAL
1,5/5
★ ★
Autor: Bruno Navarro
Agradecemos a Paris Filmes pelo convite!