CRÍTICA: F1 O FILME
Fresco do sucesso esmagador de “Top Gun: Maverick”, Joseph Kosinski retorna ao comando de mais um blockbuster que busca misturar o velho com o novo. Assim como na sequência do clássico oitentista, Kosinski parece emular em parte o espirito do saudoso Tony Scott. Com apenas algumas mudanças, “F1” poderia até funcionar como uma sequência de “Dias de Trovão”.
A trama gira em torno de Sonny Hayes (Brad Pitt), um ousado piloto cujo sucesso nunca se materializou graças a um acidente nos anos 90. Mais do que cicatrizes físicas, esse evento acabou jogando Hayes em um espiral de autodestruição. Três décadas depois ele vive participando de pequenos torneios em troca de uma dose de adrenalina e um pouco de dinheiro. É quando seu amigo – e ex-parceiro de corrida – Ruben Cervantes (Javier Bardem), oferece uma proposta tentadora: Uma última chance de manifestar todo o seu potencial participando da Fórmula 1 na sua equipe. Não demora muito para Hayes entrar em conflito com Joshua (Damson Idris), um piloto em ascensão que é talentoso, mas perigosamente arrogante.

A proposta de criar uma história em torno da mística que envolve um astro envelhecido já é antiga, seja de forma contemplativa ou apenas para massagear o ego de estrelas que já passaram do seu auge. Mesmo assim, quando bem-feita, tende a surgir uma pungente experiência sobre os limites do ser humano frente ao implacável ataque do tempo. É nesse território que reside o coração de “F1”, evitando assim que ele pareça apenas uma tentativa cínica de replicar no fenômeno cinematográfico protagonizado por Tom Cruise em 2022.
É bem difícil não tecer paralelos e comparações entre “F1” e “Top Gun: Maverick”. Não é à toa que ambos compartilham do mesmo roteirista, Ehren Kruger. A formula narrativa aqui é visível. O Hayes de Pitt é um verdadeiro Maverick das corridas. Impulsivo e bastante carismático. Ele não pensa duas vezes antes de tomar decisões que colocam não só a si mesmo como toda sua equipe em maus lençóis. Você pode enxergar o Ruben de Bardem como uma espécie de Ice Man, responsável por recrutar o nosso herói imperfeito rumo ao seu destino e glória. Sim, você verá vários desses clichês durante a projeção. Mas acredite, nada disso importa assim que a ação começa na pista.

“F1” é um daqueles raros filmes aonde cada centavo realmente aparece na tela. O brilhantismo técnico amplifica a empolgação das corridas, trazendo a visceralidade de uma briga de gladiadores em quatro rodas. Todas as cenas de corridas são – sem nenhuma exceção – genuinamente transportadoras. Cada arrancada, cada batida, cada movimento é sentido e filmado de maneira brilhante.
Talvez o verdadeiro astro aqui seja o diretor de fotografia chileno Claudio Miranda. Vencedor do Oscar e um habitual parceiro de Kosinki, Miranda nos coloca bem no olho da ação. Alguns dos planos na pista nas laterais dos carros são inacreditáveis. Sempre informando o expectador da grandiosidade daquele esporte. Sempre dando uma perspectiva totalmente nova dessas corridas. A fotografia também tira total proveito de cada centímetro ganho por conta formato expandido da tela IMAX. Difícil inclusive imaginar outro filme esse ano que aproveite tanto esse formato.

Até quem não é fã de F1 deve sair da sessão empolgado. A decisão de filmar as cenas de corridas durante campeonatos reais ajuda a dar ainda mais credibilidade para a ação. A edição de Stephen Mirrione garante uma fluidez e uma sensação de urgência que fazem o filme ter um ritmo propulsor. Outra grande contribuição é a suntuosa trilha sonora de Hans Zimmer, injetando um tom épico.
Cabe ao elenco servir como peças dentro dessa máquina bem lubrificada. Brad Pitt recorre ao seu carisma de estrela de cinema para viver uma versão distorcida da sua própria persona pública. Seu charme radiante faz com que seja fácil ficar do lado de Sonny mesmo nos seus momentos mais tóxicos. Damson Idris aproveita o máximo da aura de estrela de Joshua, um personagem que no papel é bastante limitado, mas que graças a química com Pitt ganha bastante carisma em cena. Kerry Condon consegue dar energia a um papel bem ingrato e arquetípico, escapando da função de mero interesse romântico.
O espetáculo vibrante das cenas de corrida faz com que “F1” seja uma experiência cinematográfica imperdível até para aqueles que não se importam muito com Fórmula 1. Esse blockbuster ostenta um virtuosismo técnico brilhante e um espírito vintage que sabe puxar cordas narrativas já conhecidas na hora certa e de forma elegante.
NOTA FINAL
4/5
★ ★ ★ ★
Autor: Raphael Aguiar
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