“– O de sempre? Café com leite e misto quente? / – Não, hoje vai ser diferente.” Aclamado em diversos festivais de cinema brasileiros, o novo longa-metragem de André Novais Oliveira, ‘O Dia Que Te Conheci‘, coloca em evidência a potência de três fatores: o cotidiano, a simplicidade e a conversa. Juntos, mostram-nos como uma simples conversa do cotidiano, um encontro, pode mudar nossa trajetória.
Em apenas 70 minutos de duração, o cineasta mineiro utiliza elementos tradicionais das comédias românticas de forma excepcional. De maneira concisa e com um eterno balanço entre rigor e leveza, o diretor é capaz de transpassar sua observação acerca de temas do seu tempo em um romance cativante e engraçado, interpretado por atores para lá de carismáticos.
Zeca (Renato Novaes), um bibliotecário que luta para manter sua rotina, e Luisa (Grace Passô), uma colega de trabalho que o ajuda em um momento difícil, mostram como o dia a dia, mesmo com seus imprevistos, reserva momentos belos. E são desses pequenos momentos que podem nascer conexões inesperadas. Uma conversa no ponto de ônibus pode resultar numa amizade; um muro qualquer com personalidades grafitadas pode te fazer descobrir que alguém tem carinho por você; e, até mesmo, uma conversa engraçada sobre remédios psiquiátricos pode te levar a um momento íntimo que você nem sabia que precisava.
Através de cada diálogo singelo, melhor desenrolados a partir de uma carona inesperada, vemos os personagens expostos em seus próprios humores e fragilidades. Capturando o lado cru da vida, essa série de reflexões sobre o destino e a vida são potencializadas pelas escolhas de câmera. Isso ocorre desde a distância e proximidade entre os planos, até a mudança de proporção no final, que marca uma mudança na vida do protagonista. De mãos dadas com a composição da geografia local de Belo Horizonte, Minas Gerais, enxergamos a humanidade no comum das conexões humanas.
São dessas conexões, começadas em nós mesmos e estendidas ao outro, que um desajuste conjunto semeia um momento mágico. A vida tende a estar nesses pequenos momentos. Pessoalmente, quando um filme te faz esquecer de todo aquele preto e branco do cinema, da estética e da linguagem, e te faz focar no que realmente importa — a vida —, aí, sim, você sabe que o diretor acertou em cheio em seu propósito.
O Dia Que Te Conheci, caracterizado por alguns como o “Antes do Amanhecer (1995, dir. Richard Linklater) preto e mineiro”, é contado como se estivesse sendo sussurrado bem ao pé do ouvido. O cineasta se assemelha a um amigo confabulando sobre uma descoberta. Pelo olhar dele, novamente provamos que não é preciso de muitos artifícios para tornar um filme marcante: basta uma história para contar e, claro, saber contá-la. E nisso, Novais é mais do que garantido.
NOTA FINAL
4/5
★ ★ ★ ★
Autor: Clara Rocha
SINOPSE: Zeca todo dia tenta levantar cedinho pra pegar o ônibus e chegar, uma hora e meia depois, na escola da cidade vizinha, onde trabalha como bibliotecário. Acordar cedo anda cada vez mais difícil, há algo que o impede de manter esse cotidiano. Até que, um dia, Zeca conhece Luisa.
O longa estreia em 26 de setembro nos cinemas, (Não recomendado para menores de 14 anos).
Agradecemos a Malute pelo convite!