Pecadores é mais uma ousada investida de Ryan Coogler, diretor conhecido por mesclar identidade cultural e gênero cinematográfico com maestria, como já vimos em Pantera Negra (2018). Aqui, ele se arrisca em um território ainda menos convencional: o terror musical. E não, não estamos falando apenas de uma trilha sonora marcante ou de momentos pontuais embalados por música. Neste filme, a música é protagonista — estrutura a narrativa, dita o ritmo das cenas e compõe a identidade de cada personagem.

Desde os primeiros minutos, quando nos é apresentada a lenda que molda o enredo, a trilha sonora se revela central para a construção do universo proposto. Cada batida e melodia acompanha a progressão da trama, culminando em uma sequência ambientada em um “club” que é, por si só, um espetáculo à parte. A cena é um verdadeiro mosaico musical, contemplando estilos diversos e respeitando diferentes gostos, tudo costurado com um ritmo envolvente que conduz a câmera e os personagens com precisão.
Nesse ambiente vibrante, os antagonistas são quase secundários — a música ocupa tanto espaço que tudo ao redor parece coadjuvante. Michael B. Jordan brilha em dose dupla ao interpretar os irmãos gêmeos Smoke e Stack. Suas atuações são distintas o suficiente para transmitir as nuances de cada personalidade, e para quem tiver dificuldade no início, há um recurso visual simples e eficaz: as cores das roupas ajudam a diferenciá-los. Eles dividem o protagonismo com o primo Sammy (Miles Caton) e com Delta Slim, vivido pelo veterano Delroy Lindo (60 Segundos), formando o núcleo responsável pelo sucesso do clube — e, consequentemente, pela ameaça que atrai.
Essa ameaça surge em forma de vampiros, conectados à lenda que permeia o roteiro e, surpreendentemente, também à musicalidade. O principal deles, Remmick, interpretado por Jack O’Connell (Back to Black), entrega uma performance magnética: um vampiro elegante, sedutor e mortal. É impossível não lembrar de Um Drink no Inferno (1996) — e, talvez, seja mesmo hora de brindar uma nova geração com o seu próprio “drink”.
As cenas de ação são outro ponto alto. A estética é cuidadosa, com iluminação bem trabalhada, movimentos de câmera expressivos, closes intensos e o uso inteligente de falsos planos-sequência. Tudo isso, claro, embalado pela trilha, que marca não apenas o tempo das ações, mas também os sentimentos que cada cena evoca.
A ambientação é um espetáculo à parte. Ambientado no fim dos anos 1930, o filme esbanja autenticidade em locações, figurinos e até mesmo nos subtextos — especialmente ao abordar questões raciais sem didatismo ou apelação. O elenco é etnicamente diverso, e os interesses românticos dos gêmeos — Mary (Hailee Steinfeld) e Annie (Wunmi Mosaku) — também trazem camadas importantes. Mary é firme, mas é Annie quem ganha maior profundidade e relevância dentro da trama.
Pecadores é, acima de tudo, um filme corajoso. Mistura gêneros, desafia convenções e entrega uma experiência única. A nova geração de cinéfilos está, sem dúvida, muito bem servida.
NOTA FINAL
5/5
★ ★ ★ ★ ★
Autor: Leonardo Valério
Agradecemos a Warner Bros pelo comvite!
Confira outras críticas:
Compartihar: