CRÍTICA: PEQUENAS COISAS COMO ESTAS
Em Pequenas Coisas Como Estas, dirigido por Tim Mielants e com roteiro assinado por Enda Walsh, acompanhamos a trajetória de Bill Furlong, um vendedor de carvão em uma pequena cidade irlandesa dominada pela influência opressiva da Igreja Católica. Confrontado por uma descoberta perturbadora, Bill é forçado a mergulhar em seu íntimo para compreender o verdadeiro significado de bondade e compaixão, desafiando não só um ambiente hostil, mas também os próprios limites de seu silêncio interior.
A direção de fotografia, assinada por Frank Van Den Eeden, se destaca como um dos maiores encantos do filme. Utilizando uma paleta que oscila entre o azul-escuro e o cinza, o visual reflete de maneira quase palpável a monotonia dos cidadãos, a repressão imposta pela igreja e o medo constante que Bill nutre pelo futuro de suas filhas. A escolha do formato 4:3 e o uso de planos fechados intensificam a sensação de claustrofobia e introspecção, conduzindo o espectador por uma atmosfera tensa e carregada de sutilezas.

No centro desta narrativa sensível, Cillian Murphy entrega uma performance magnética. Recorrrendo a uma atuação minimalista, Murphy expressa o terror interno de Bill com olhares e gestos que transcendem as palavras, reforçando a angústia oriunda de um passado trágico, o receio pelo futuro e a inquietação diante do comportamento alheio. Sua performance, que ecoa a fórmula consagrada que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator em 2024, é capaz de transmitir uma carga emocional intensa com uma economia de expressões, tornando cada cena um retrato vivo do conflito interno do protagonista.
Apesar da sutileza ser um dos grandes trunfos do filme, ela também se mostra duvidosa em determinados momentos. As sequências que exploram o passado de Bill — especialmente sua infância e a relação com Ted —, embora carregadas de potencial dramático, acabam sendo insuficientemente aprofundadas. Essa narrativa fragmentada cria laços que, por vezes, parecem apressados e deixam o espectador com a sensação de “quero mais”, comprometendo a coesão e o impacto emocional que o filme poderia alcançar.

Ainda assim, o roteiro de Enda e a direção de Tim se complementam ao acompanhar de forma delicada a evolução de Bill. Em meio a um ambiente onde os absurdos são tratados com uma normalidade quase insana, o protagonista se destaca como o único que realmente sente e se rebela contra essa indiferença coletiva. Sua virada no terceiro ato — quando decide ignorar os olhares de julgamento para ajudar alguém em situação extrema — é um momento emblemático, que reafirma a mensagem central do longa: pequenas atitudes de compaixão têm o poder de transformar o mundo, mesmo que apenas para uma única pessoa.
Pequenas Coisas Como Estas é, portanto, um convite à reflexão sobre a importância dos gestos simples e da coragem de fazer o bem, independentemente do ambiente ou das adversidades. No fim das contas, são essas pequenas ações que, juntas, nos moldam e nos tornam verdadeiramente humanos.
NOTA FINAL
4,5/5
★ ★ ★ ★ ★
Autor: Bruno Navarro
Agradecemos a O2 Play Filmes pelo convite
Compartihar:
Publicar comentário