A difícil jornada de uma mãe e sua filha adolescente ao confrontarem a morte, que chega até elas na forma de um pássaro falante.
Dizer adeus para alguém que amamos é uma das experiências humanas mais dolorosas – talvez até a mais dolorosa delas. É algo que todos estão destinados a experimentar em algum momento da vida. “Tuesday – O último abraço” utiliza uma narrativa lúdica para falar dessa dor tão real, e do absurdo que ela traz no coração de quem vivencia o luto.
“Tuesday – O último abraço” conta a história de Tuesday (Lola Petticrew), uma jovem que enfrenta doença terminal. Um dia, a Morte faz uma visita para ela e sua mãe Zora (Julia Louis-Dreyfus), assumindo a forma de uma arara que pode alterar o seu tamanho.
Os alicerces que fazem esse conto de fadas funcionar são as duas performances centrais que preenchem a tela de humanidade. A jovem Lola Petticrew tem uma performance internalizada e enigmática, traduzindo toda a resiliência de Tuesday. Já Julia Louis-Drefus entrega não só um dos seus melhores trabalhos como acaba elevando o texto no processo. Sua Zora é a âncora do enredo, alguém que vive em constante estado de medo e negação. A forma como ambas interagem com a morte em forma de Arara faz com que compremos esse artifício rapidamente.
Embora a sinopse faça com que “Tuesday” pareça uma história deprimente e excessivamente melancólica, esse não é o caso. Ainda existe bastante espaço para momentos humor aqui. O longa, no entanto, encontra sua maior fragilidade no uso da figura da Morte. É uma escolha que funciona conceitualmente, mas que acaba perdendo a potência a medida que é utilizada demasiadamente como gag visual.
Algumas cenas são dedicadas a mostrar a forma como a morte muda de tamanho, por razões que não se conectam claramente com a jornada das duas personagens. Isso acaba fazendo com que essa escolha se torne uma espécie de capricho metafórico, um que talvez funcionasse melhor em um curta ou em doses menores.
“Tuesday – O último abraço” é menos sobre decifrar os mistérios da morte e mais sobre o processo de busca por respostas que cercam esses mistérios. É uma história sobre como a forma que vivemos acaba ditando a maneira que partimos. Os escapismos dos seus elementos fantásticos apenas reforçam aquilo que é humanamente impossível de se escapar. Uma jornada que busca no fim trazer algum conforto quando esse momento de necessidade bater na sua porta.
NOTA FINAL
3,5/5
★ ★ ★
Autor: Raphael Aguiar