Crítica – Deadpool Massacra o Universo Marvel (2012)
Em 2012, a Marvel Comics decidiu apostar na polêmica imediata para dar a seus universos não canônicos um exemplar forte e irreverente na exibição do gore e da hierarquização de personagem, trazendo o Mercenário Tagarela como o realizador de um dos feitos mais comentados até hoje pela comunidade nerd que ama os quadrinhos, não só do Deadpool, mas também da editora como um todo. Deadpool Massacra o Universo Marvel é esse bom apelo pela polêmica, no seu comunicar com o público engajado no consumo dessas histórias de um jeito provocativo e dar uma voz ainda mais profunda e cínica do Wade Wilson perante a indústria de quadrinhos e a forma como os autores orbitam suas narrativas em torno deles.
Cullen Bunn ( Deadpool Classic Vol. 16: Killogy ) roteiriza um verdadeiro banho de sangue, desenhado pelo croata Dalibor Talajic ( Good Buddies ), onde ambos esmaecem uma história que permuta a sanidade ainda mais tórpida do Deadpool, o lançando para uma cruzada de assassinatos violentos cometidos contra vários dos heróis mais queridos do universo Marvel, como o próprio Homem Aranha, todo o Quarteto Fantástico e os X-Men.
É uma história livre de amarras para estimular o choque. Só por ele, a narrativa que se condensa em quatros edições , consegue se aproveitar muito bem do estima que o público tem com os seus personagens queridos e subverte isso a um quadro de morte e de pesar num imediatismo bastante corajoso.
O desenho do Talajic fissura ainda uma impressão de ” plot ” a cada morte, como se não esperassemos que aquilo fosse acontecer, mesmo com o título altamente sugestivo. Vale ressaltar que a atmosfera das páginas seguem-se em cores pouco pesadas, respeitando uma certa naturalidade dos cenários onde ocorrem esses embates já cantados pelo título, para valorizar ainda mais os traços do sangue ou a ruptura do quadro com a enfim morte de um personagem querido.
A morte do Homem Aranha mesmo, parte de desenhos limpos, até enfatizando uma certa confiança do teioso como uma luta nornal, até que o Talajic responde ao roteiro com um tiro super violento e repentino que o Deadpool dispara, matando o herói ali mesmo. Gostei bastante dessa maneira em rejeitar uma referência estética mais óbvia para subverter até a expectativa geral da história ( como eu disse, criando choque mesmo com o título prevendo que o Deadpool vai matar o cara ).
Só não gosto da banalidade mesmo. Eu sei, ela vem com a compressão da narrativa em só quatro edições, mas ela me incomoda de toda forma. Há lutas ali que poderiam ser melhor aproveitadas e ficaram só num subtexto implícito e mostradas num quadro mais atenuante e super resolutivo, como a morte do Doutor Destino e do Duende Verde, por exemplo. A implicitude sugere também uma leve impressão de implosão até absurda de todo o universo Marvel, com os Vingadores e a população civil sugerindo planos de contenção, que obviamente ( mas implicitamente, até certo ponto ) falham.
Mas admiro o teor de absurdismo acima disso. Até porque é o Deadpool. Aqui que após sofrer um embaralhamento mental sai matando toda a Marvel com muita indiferença e com sua imposição irretocável pelo fator de cura. Mas o melhor é o cinismo. Antes disso vem a violência, onipresente na hq, mas chocando em sua gênese na morte do Quarteto fantástico. Desenhada sempre nesse pré clima de esperança falso que eu citei , a impressão de plot. Mas é aí que o Cullen Bunn agiliza sua visão crônica em frente a HQ : Deadpool manda na história.
Ele mata o narrador da história logo na primeira edição,o Vigia, que dava até aquele momento um senso de emergência ao Deadpool que o leitor jamais imaginaria que terminaria num assassinato realizado pelo próprio, quebrando a lógica ” dimensional ” da própria história com gloriosa ascensão. E não para por ai. O cinismo.
Ele quebra mais uma parede, pulando do interiorano dimensional ( a lógica da própria história ) e chega até o ápice da quarta parede. O genialismo e a ousadia da hq é subverter até isso. O Wade, após matar geral, vai até o estúdio de criação da própria Marvel e vê a galera criando ele mesmo. E aí vem o aviso de que a gente, o leitor, seria a próxima vítima de sua matança descontrolada.
No clímax da narrativa, tivemos uma luta do Wade contra o Teakmaster, onde o próprio atinge essa crônica maravilhosa e ” quebra dimensões” de Deadpool Massacra o Universo Marvel. Mesmo que do jeito Deadpool de dizer ( não tão profundo, embora com um ótimo sentido subvertido ) que havia um ciclo sem graça nesses personagens tão amados que ele saiu matando durante os quadros capítulos.
Que os roteiristas, os seres de uma dimensão maior, manipulavam todos eles como marionetes, decidindo por eles suas mortes e constantes ressurreições. É aí que a Marvel se olha com certo cinismo consciente e aberto a se auto criticar, mas deixando claro que isso além de inevitável, é essencial para essa indústria. Mas que havia um certo sujeito que estava acima disso tudo.
Apesar de eu achar que quase tudo é aceleradasso pelas poucas edições, é um dos quadrinhos mais polidimensionais e curiosos da editora em tempos recentes. Afinal é uma constante quebra de expectativas, mesmo abarcados num título tão sugestivo, mas também aparentemente resoluto em uma linha fácil de se explicar. Não é nem pela lógica, mas também pelo aviso.
O DEADPOOL VAI PEGAR VOCÊ
O namoro do cinismo com a violência, a polêmica e a crônica industrial no processo criativo. Pode ter lá suas resoluções questionáveis, mas não dá pra tirar dele o aspecto incrível que seu quadro final deixa no leitor.
NOTA FINAL
4/5
★★★★
Autor : Flávio Júnior
DEADPOOL MASSACRA O UNIVERSO MARVEL
ANO : 2012
EDIÇÕES: 4
AUTOR : Cullen Bunn
DESENHOS : Dalibor Talajic
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