Essa semana tive a oportunidade de assistir a Criaturas do Senhor, um dos lançamentos de setembro no streaming, a convite da Adrenalina Pura.
ㅤ
O nome Adrenalina Pura indica seu foco em filmes de ação, terror e suspense. Em vez de ser uma plataforma independente, opera como um canal integrado a serviços como Amazon Prime Video Channels.
Confira também:
- Netflix | Estreias de filmes em Outubro
- Prime Vídeo | Estreias de filmes em Outubro
- Boosteroid adiciona novos jogos ao catálogo de nuvem; confira
ㅤ
Em Criaturas Do Senhor, Anna Holmes e Saela Davis propõem uma narração psicologicamente densa para trabalhar questões como maternidade e idealização, numa estreita relação com disfunções morais de uma sociedade restrita e proletária.
ㅤ
ㅤ
O longa conta a história de Aileen O ‘ Hara ( Emilly Watson ) funcionaria de uma empresa que faz coletas de animais marinhos, como ostras e peixes, na qual é fundamental na manutenção social de uma pequena cidade irlandesa litorânea, no qual o filme sd situa. A história se desenvolve em dois pontos de ignição importantes : o momento em que o filho de Aileen, Brian ( Paul Mescal ) retorna da Austrália para se reencontrar no âmbito familiar da mãe e numa consequente mentira que ela conta para proteger Brian de uma acusação de estupro.
ㅤ
O que faz com que longa seja concebido numa esfera reflexiva, é sua retratação cautelosa da desilução, que aqui, num viés que conecta a mãe que a muito tempo não tinha notícias do filho, com um filho que não se apresenta imediatamente como uma nuance definida de seu caráter, consiste em se inquietar sobre a possibilidade do filho ter realmente cometido um ato tão hediondo a ponto de inutilizar um afeto tão concentrado que Aileen apresenta desde o início da projeção.
ㅤ
Essa concepção, no meu entendimento, sobrevive somente numa articulação implícita e quase sempre letárgica da melancólia da mãe em gradação com as tensões alheias de Brian. Ainda que consiga enfatizar, por meio de símbolos e de diálogos mais específicos, nos quais coloca os personagens de apoio como construtores dessa imagem de distância moral, como Sarah ( a ex namorada de Brian que supostamente foi vítima do estupro ) e a própria família de Aileen, que se posiciona num território de resiliência quanto a reintegração de Brian naquele escopo familiar.
ㅤ
ㅤ
Mas acho o filme muito fraco ao elipsar essa semântica sobre a construção de seu próprio enredo. Decidindo ser mais uma entidade presa nas observações quase sempre frias e silenciosas de uma cidade onde seu maior destacamento é a pesca, o filme pende-se num reducionismo cíclico por entre conjunções entre imagem e texto de maneira até raquítica.
ㅤ
Mesmo que não precisasse desarmar o mistério de seus personagens, o longa não faz muito ao querer dar sentimento e apelo as cenas que exigiam de tal um aprofundamento mais palpável. Leva tanto tempo para introduzir esse vilarejo proletário, que o que resta como alavanca ás ideias em prol de uma comunicação mais sólida, é uma superficialidade apressada e desconstruída dos seus pontos.
ㅤ
ㅤ
A técnica da mise in scene, mesmo sendo boa, com enquadramentos sensivelmente arquitetônicos quanto analogia textual, em traduções que me pareceram querer jogar obsessivamente com o silêncio e os closes ( em aproximações e distanciamento como púlpito de intensidade psicológica ), acaba se obturando por um virtuosismo muito longo e insosso.
ㅤ
Criaturas do Senhor não é longo em questões de minutagem, mas no que consiste a tratar seu tema com muita repetência do reducionismo cíclico que eu citei. Algo como distribuir cernes da socio-habilidade temática em analogia sistêmicas entre texto e imagem, e elaborar a ideia do mundo da forma mais densa possível, sem de fato, alcançar essa densidade.
ㅤ
No fim, o que era pra ser memorável dentro de um lapso de maternidade ( algo que só é muito bem evidenciado pela ótima atuação da Emilly Watson e pela cena do barco ) vira uma virtude passageira pouco criativa para tencionar situações, que enfarela uma fissão religiosa com moralidade restritiva insuficiente para tomar parte do escopo crônico da narração.
ㅤ
Mesmo tendo a temática psicológica e indissociável de uma leitura familiar imprevisível como a crise do filme, a articulação mor dessas relações soam sempre mornas e distantes do telespectador, como uma tentativa constante de teatralizar tudo em prol de uma experimentação prioritariamente observatória.
ㅤ
ㅤ
Que de todo modo, volta ao formalismo repente e honestamente chatinho de uma desconfiança que não gera lucros em sua resolução.
NOTA FINAL
2/5
★ ★
Autor: Flávio Júnior
ㅤ