Uma introspectiva agente do FBI é designada para um caso envolvendo um assassino em série impiedoso. Conforme desvenda pistas, ela se vê confrontada com uma conexão pessoal inesperada com o assassino, lançando-a em uma corrida contra o tempo.
Qualquer um que tenha acompanhado a engenhosa campanha de marketing de “Longlegs” deve ter se deparado com extensivas comparações com o clássico do suspense “O Silencio dos Inocentes”. Tais comparações tão superlativas assim acabam não ajudando em nada além de fomentar expectativas inalcançáveis. Mais do que isso, o novo thriller ocultista de Osgood Perkins (A Enviada do Mal) se distancia da obra de Jonathan Demme no seu niilismo, tom atmosférico e na forma com que joga com elementos sobrenaturais.
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Ambientado em meados dos anos 90, a trama segue a agente do FBI Lee Harker (Maika Monroe). Além de ser bastante introspectiva, Harker parece possuir uma habilidade quase que psíquica na hora de desvendar pistas. Devido a esse talento, o chefe de Lee (Blair Underwood) a toma como protegida no FBI, colocando-a na frente da caçada ao misterioso serial killer conhecido como Longlegs. Aos poucos Lee começa a descobrir pistas sobre a identidade de Longlegs que estão conectadas com seu próprio passado.
O cinema de Perkins nunca foi muito acessível para o público geral. São histórias que investe na criação de uma atmosfera opressora. Não é difícil encontrar aqueles que possam se sentir entediados com a rigidez da forma. Mas é inegável que existe uma certa elegância na forma com ele deixa a cena respirar enquanto observa todo um universo macabro florescer. É como se a câmera esperasse o momento certo em que toda malicia e perversidade que pairam nas estrelinhas exploda de forma visível para tela. “Assustador” não é a melhor palavra para descrever “Longlegs”. Talvez “inquietante” se encaixe melhor.
Aqui o horror nasce como uma revelação de verdades horripilantes acerca das relações humanas. Não é à toa que todas as vítimas são singelas famílias americanas. Mais que uma presença a ser temida, o assassino parece ser um parasita enviado para corroer as frágeis estruturas sociais que separam os homens dos animais. Um pai pode ser amoroso em um momento e monstruoso logo em seguida. O que dá origem a um impulso dessa natureza? Ou será que ele sempre residiu dentro de todos nossos corações?
A falta de respostas é o que fomenta a tensão. No universo de “Longlegs” atos de barbárie ocorrem além da explicação. O brilhante design de som reforça essa sensação de que o mundo é o esconderijo daquele mal. Como se ele estivesse sempre fora do quadro, apenas se preparando para aquele empurrão necessário em cada um dos personagens.
Maika Monroe (Corrente do Mal) soma mais uma memorável protagonista de horror ao seu currículo. Sua estoica agente Harker exige de si uma performance internalizada. As sutis brechas emocionais acabam culminando em um final explosivo. Em contraponto, Nicolas Cage entrega um trabalho expansivo e genuinamente perturbador como o personagem título. Irreconhecível debaixo de uma peruca loira e camadas de maquiagem, seu serial killer parece ser um cruzamento de Charles e Marilyn Manson. O seu econômico tempo de tela é efetivo e ainda ajuda a preencher o filme com um senso de humor macabro.
Perkins ainda consegue arrancar um belo trabalho do elenco de coadjuvantes. Blair Underwood parece se divertir explorando os clichês de chefe do FBI meio ranzinza. A Alicia Witt domina o ato final do longa como a perturbada mãe de Harker. Kiernan Shipka deixa sua marca em uma das melhores cenas do filme.
“Longlegs” lembra que o senso de horror mais efetivo é aquele calcado nas nossas ansiedades existenciais e pela busca por compreender o mundo a nossa volta. Entender todos os simbolismos e códigos que permeiam a produção não parece ser o real objetivo de Perkins. Já sabemos quem é o assassino desde o primeiro minuto. O verdadeiro mistério é saber o que ainda resta ser salvo. E se o esforço vale a pena.
NOTA FINAL
4/5
★ ★ ★ ★
Autor: Raphael Aguiar
Agradecemos a Diamond Filmes pelo convite.