CRÍTICA | MICKEY 17
Mickey 17 é um trabalho surpreendente do diretor Bong Joon-Ho, responsável pelo premiado Parasita (4 Oscars, incluindo Melhor Filme). Adaptado do livro homônimo de 2020, o filme adota uma abordagem tétrica e bem-humorada, demonstrando um dos grandes trunfos da ficção científica: utilizar um universo alternativo para lançar um olhar crítico sobre o nosso próprio mundo.
Na trama, acompanhamos Mickey Barnes (Robert Pattinson, de The Batman, 2022), um colaborador designado a morrer inúmeras vezes para testes científicos. Essa premissa levanta uma questão fundamental: qual o real valor da vida quando ela é posta em balanço com o progresso tecnológico e científico? A narrativa, por ser contemporânea, está repleta de referências à sociedade atual, o que contribui para que o público se identifique com os dilemas apresentados.

Entre os destaques do elenco, Mark Ruffalo, no papel de Kenneth Marshall, se sobressai ao interpretar um líder político e mega empresário com uma capacidade única de cativar e manipular as massas. Sua atuação, fundamentada em características de figuras reais, torna o personagem instantaneamente reconhecível, mesmo para os espectadores menos atentos. Ao lado dele, Toni Collette, como Gwen – sua esposa e confidente –, traz uma dose de insanidade narcisista que, embora irritante, acrescenta um toque divertido e imprevisível à narrativa.

No que tange ao protagonista, Pattinson oferece uma interpretação de Mickey 17 que se mostra simplória e pouco ousada, o que acaba refletindo na superficialidade com que o filme trata os dilemas existenciais inerentes a histórias de clonagem e replicação. Contudo, sua versatilidade surge quando o personagem se transforma em Mickey 18, adotando uma personalidade completamente distinta. Essa dualidade, embora instigante, é pouco explorada pela produção, que deixa em aberto os motivos para tal divergência de comportamentos.

Em suma, Mickey 17 se apresenta como um filme que, de forma despretensiosa, revela um olhar crítico sobre diversos aspectos negativos da nossa sociedade. Desde a desvalorização do indivíduo comum até a manipulação das massas por líderes populistas – e até mesmo a semelhança entre práticas corporativas e congregações religiosas – o longa utiliza a ficção científica para espelhar de forma aguda e, por vezes, superlativa, os desafios e contradições do mundo contemporâneo.
NOTA FINAL
4/5
★ ★ ★ ★
Autor: Leonardo Valério
Agradecemos a Warner Bros pelo convite!
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