CRITICA | RIVAIS

Um ou outro cinéfilo mais fervoroso pode estranhar a princípio o que levou Luca Guadagnino, responsável por obras como “Me Chame Pelo Seu Nome” e o remake de “Suspiria”, a se debruçar em um projeto como “Rivais”. Temos aqui o longa mais acessível do cineasta italiano até o momento. O idílico norte da Itália cede lugar as quadras de tênis e aos hotéis de New Rochelle, Nova York. O que não muda, porém, é o desejo de Guadagnino em explorar o desejo humano e seus efeitos naqueles que são inspirados por esse desejo. “Rivais” é um filme extremamente sensual.

Não tem praticamente nenhuma cena de sexo. A única cena que expõe alguma nudez se dá em um contexto não sexual. Ainda assim, a câmera em constante movimento do tailandês Sayombhu Mukdeeprom passeia por ombros, joelhos, mãos, panturrilhas – na maioria das vezes cobertas de suor – evidenciando logo de cara esse lado tátil do projeto. Uma escolha que busca não só cultuar a beleza, mas também revelar a vulnerabilidade daqueles personagens.

📸Foto: Warner Bros.

A trama cobre a relação conturbada entre dois tenistas e amigos de infância, Art (Mike Faist) e Patrick (Josh O’Connor) após a chegada da tenista Tashi (Zendaya). Em um ritmo quase que de um thriller, percorremos de forma não cronológica os 13 anos de mágoas, rivalidade e tensão sexual acumulada que une esse trio.

Essa não-linearidade se mostra uma escolha narrativa que emula a própria dinâmica do tênis – bate e volta. Bola vai, bola vem. Cada flashback é brilhantemente inserido. Não diluindo a tensão do momento, mas sim resinificando ações do presente e estando sempre enraizado na partida que está acontecendo.

📸Foto: Warner Bros.

Tecnicamente o filme brilha em diversos fronts. A câmera busca não apenas nos colocar dentro de cada uma das arenas habitadas por aquelas personagens, mas também passa a emular ponto de vistas distintos durante as partidas, traduzindo as nuances na fisicalidade e na dinâmica de cada um deles, capturando isso de forma visual. Vale mencionar também a excelente trilha da dupla Trent Reznor e Atticus Ross, talvez o melhor trabalho deles desde “A Rede Social”.

📸Foto: Warner Bros.

Esse é um projeto que exige o máximo tanto no aspecto físico quanto dramático do seu trio de jovens protagonistas – e eles correspondem a altura. Zendaya tem aqui o seu melhor papel até o momento. Sua Tashi passa longe de ser apenas um prêmio para os dois protagonistas masculinos.

Ela dá vida a uma ferocidade frenética nas quadras e uma presença intimidadora fora dela. Cada cena de “Rivais” é desenhada para colocar o melhor dela em evidência. Mas é Josh O’Connor, que rouba a cena como Patrick, um amontoado vivo de promessas não cumpridas e potenciais desperdiçados. Seu sorriso reluzente da adolescência se torna um charme desesperador.

Um personagem que facilmente poderia ganhar contornos vilanescos mas que faz O’Connor crescer ao investir na melancolia e na solidão. O Art de Mike Faist é a princípio parece ser elo mais vulnerável desse trio. É interessante ver como Faist traduz a raiva desse esportista nato que é levado ao seu ponto de limite.

📸Foto: Warner Bros.

Nas mãos de um contador de histórias menos habilidoso “Rivais” poderia soar apenas como um novelão. Já com Guadagnino se torna um drama operático em constante propulsão cuja sensação é de que tudo ali é tão empolgante quanto assistir uma partida ao vivo. “Rivais” é muito menos sobre quem vai “ganhar” e mais sobre o caminho de cada um traça afim de conquistar a “vitória”.

Autor: Raphael Aguiar

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