Demon Slayer: A Ascensão e as Curiosidades do Anime
Nos últimos anos, um anime em particular conseguiu não apenas capturar a atenção global, mas também reacender a chama dos grandes shonen, transformando-se em um verdadeiro fenômeno cultural: Demon Slayer. A obra de Koyoharu Gotouge, que começou como um mangá derivado de um one-shot, alcançou recordes impressionantes, desde sua consagração nos cinemas japoneses até a quebra de barreiras internacionais com a história emocionante de Tanjiro e Nezuko. Por trás desse sucesso estrondoso, existem diversas curiosidades que ajudam a entender como a franquia se tornou tão gigantesca, abrangendo desde inspirações diretas em obras famosas e mitologia japonesa, até detalhes inusitados sobre personagens e bastidores da produção.
A jornada de Demon Slayer começou bem antes de sua serialização oficial. Koyoharu Gotouge deu seus primeiros passos como mangaká em 2013, aos 24 anos, com um trabalho de 45 páginas intitulado Kagarigari, que já abordava a temática de caçadores de demônios. Essa obra, apresentada no 70º Prêmio Jump Treasure Newcomer Manga, foi a semente que, anos depois, germinaria em Demon Slayer. Embora não fosse uma continuação direta, a obra serializada em 2016 claramente herdou elementos de Kagarigari. O mangá de Demon Slayer durou até 2020 nas páginas da Weekly Shōnen Jump, sendo concluído em 23 volumes.
Curiosamente, o otimista e esperançoso Tanjiro Kamado, que conhecemos hoje, teve uma versão original bem mais sombria. Antes do lançamento de Demon Slayer, Gotouge publicou um one-shot chamado Kisatsu no Nagare, que apresentava Nagare, um Caçador de Onis com um braço decepado, pernas de madeira e uma personalidade escura. O editor de Gotouge considerou Nagare “obscuro demais” para o perfil da Shonen Jump, o que levou à criação de um protagonista mais “reluzente” para introduzir o universo, resultando no bondoso Tanjiro em sua busca para salvar sua irmã.

As inspirações para o mundo de Demon Slayer são variadas e profundas. Koyoharu Gotouge revelou em entrevistas que Naruto, JoJo’s Bizarre Adventure e Bleach foram as três obras que mais influenciaram sua criação. Dentre elas, Bleach deixou a marca mais forte no desenvolvimento do enredo. A ideia da elite poderosa do Gotei 13 de Bleach, composta por capitães que defendem a Soul Society, serviu de base para Gotouge conceber os nove Hashiras, os pilares dos caçadores de demônios, representando os guerreiros mais fortes e respeitados de sua organização.
A mitologia japonesa também é uma base fundamental da obra. O Japão, com suas crenças em deuses e demônios, ofereceu um rico repertório para Gotouge, que trouxe releituras modernas de entidades yokai clássicas. Muzan Kibutsuji, por exemplo, foi baseado em Nurarihyon, o “Comandante Supremo de Todos os Monstros”. Yahaba remete ao Tenome, uma criatura descrita no século XVIII com olhos nas palmas das mãos, e Kyogai foi inspirado em Raijin, o deus do trovão, com a adaptação de seus tambores como arma mortal.
A ambientação histórica de Demon Slayer é outro ponto de destaque, sendo situada na Era Taisho. Diferente da maioria das obras de samurais que preferem o Período Edo, Gotouge escolheu um recorte muito mais curto e recente, de apenas 15 anos, após a era dos samurais clássicos. Essa decisão confere à narrativa uma atmosfera única, marcada por rápidas e profundas mudanças no Japão, ilustrando o contraste entre o Japão tradicional e o avanço da modernização. Essa dualidade é vivida por Tanjiro ao deixar sua vila interiorana e se deparar com a modernidade da cidade grande.

Uma curiosidade que gerou muitos memes na internet é a similaridade visual de Muzan Kibutsuji, o vilão principal, com o cantor Michael Jackson. Embora a semelhança seja notável e engraçada para os fãs, nem Koyoharu Gotouge nem a Shonen Jump jamais confirmaram essa inspiração.
O sucesso de Demon Slayer não seria o mesmo sem a extraordinária contribuição do estúdio Ufotable. Apesar de já ser elogiado por suas animações em animes como Fate, o Ufotable não era tão conhecido quanto estúdios como Toei Animation ou MAPPA. O mangá de Demon Slayer também não era um grande hype antes do anime, mas o Ufotable decidiu adaptá-lo. Com uma produção de altíssimo nível, o anime impulsionou tanto o estúdio quanto as vendas do mangá de forma absurda.
Um ponto de virada crucial foi o episódio 19 da primeira temporada, “Hinokami”, que superou as expectativas e fez o anime viralizar na internet. Esse episódio foi um grande impulso para o aumento estrondoso das vendas do mangá, que se tornou o mais vendido de 2019 e 2020, superando até mesmo One Piece, que historicamente ocupava o primeiro lugar.

No que diz respeito aos poderes dos exterminadores, as “respirações” são frequentemente mal interpretadas. Embora vejamos elementos da natureza saindo das espadas quando os personagens utilizam seus estilos de respiração, as notas da autora no mangá esclarecem que os espadachins não produzem poderes elementais reais. Para os observadores, parece que as respirações realmente produzem um elemento da natureza, mas na verdade, elas são apenas estilos de combate, e seus “poderes” são uma ilusão de ótica.
Finalmente, o impacto de Demon Slayer estendeu-se para o cinema, com o filme Demon Slayer: Castelo Infinito consolidando-se como um fenômeno histórico de bilheteria no Japão. O filme quebrou o recorde de maior estreia da história do cinema japonês, arrecadando mais de ¥1,6 bilhão em um único dia e alcançando ¥7,3 bilhões nos primeiros quatro dias. Em apenas oito dias, atingiu a marca de ¥10 bilhões, superando até mesmo o desempenho de Mugen Train. Em pouco mais de um mês, Castelo Infinito ultrapassou a bilheteria total de Titanic no Japão, tornando-se o terceiro maior filme da história do país, atrás apenas de Mugen Train e A Viagem de Chihiro. A trajetória de Demon Slayer é, sem dúvida, um testemunho de uma obra que soube aliar uma narrativa envolvente, personagens carismáticos e uma produção de ponta para conquistar o mundo.
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