Inspirações Criativas: Quando a DC “Copiou” a Marvel
No dinâmico universo dos quadrinhos, é comum encontrar paralelos e semelhanças entre os personagens da Marvel e da DC, e muitas vezes a discussão se volta para as inspirações que a Marvel pode ter tirado de sua “Distinta Concorrência”. No entanto, a história é um pouco mais complexa: a DC também já se inspirou no vizinho, criando versões notavelmente familiares de figuras icônicas da Casa das Ideias. Desde deuses cósmicos que devoram mundos até príncipes atlantes, essa lista revela que nem mesmo os maiores gigantes dos quadrinhos estão imunes a essas “inspirações criativas”.
Um dos exemplos mais notáveis surge no espaço sideral. Na Marvel, Galactus, criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1966, é uma entidade cósmica lendária, uma força da natureza ancestral que consome planetas para manter o equilíbrio do universo. Décadas depois, em 2000, a DC introduziu Imperiex. É difícil ignorar as semelhanças: Imperiex é um ser cósmico de escala inimaginável, cuja missão é apagar o universo para recriá-lo em perfeição. Seu corpo, composto por pura energia envolta em uma armadura gigantesca, lembra bastante o Devorador de Mundos visualmente. A diferença fundamental reside na motivação: Galactus age por necessidade, enquanto Imperiex representa a destruição como uma limpeza total.


No cenário patriótico, o Capitão América da Marvel, um símbolo do patriotismo americano desde 1941, com seu escudo, uniforme nas cores da bandeira e combates contra tiranos, é um dos personagens mais icônicos. A DC, apenas um ano depois, em 1942, apresentou o Guardião. Curiosamente, ambos foram criados por Joe Simon e Jack Kirby. O Guardião possui um visual quase idêntico, incluindo o escudo e um uniforme dourado e azul. Jim Harper, o Guardião, age como um vigilante urbano à margem da lei, quase como uma versão menos superpoderosa de Steve Rogers.
O mundo dos insetos também tem suas duplicações. A Vespa da Marvel, co-criadora dos Vingadores em 1963, é conhecida por sua capacidade de encolher, voar com asas bio-sintéticas e disparar rajadas de energia, além de ser uma figura carismática e influente. Treze anos depois, em 1976, a DC lançou Abelha. A comparação é inevitável: ela também é uma heroína com traje tecnológico que permite voo, encolhimento e disparos de energia, tudo com um visual de inseto. A principal distinção reside na origem: a Vespa obteve seus poderes pela ciência de seu marido, Hank Pym, enquanto a Abelha criou sua própria armadura para provar seu valor.
Ciborgues também foram tema de “inspiração”. O Deathlok da Marvel, de 1974, foi o primeiro ciborgue marcante, um soldado reanimado em um futuro distópico como uma arma meio-humana, meio-máquina, abordando temas como identidade e livre-arbítrio. Seis anos depois, em 1980, a DC introduziu Ciborgue. Victor Stone era um adolescente salvo por seu pai cientista após um acidente, reconstruído com tecnologia avançada. Embora o visual do Ciborgue seja menos grotesco e sua história foque mais no drama familiar do que na distopia, é difícil não vê-lo como uma resposta ao conceito de Deathlok.


Até os arautos cósmicos têm seus sósias. O Surfista Prateado da Marvel, de 1966, é o arauto trágico de Galactus, um viajante cósmico em sua prancha prateada, inicialmente um mensageiro da destruição com um coração em conflito. Cinco anos depois, em 1971, Jack Kirby, um dos criadores do Surfista, foi para a DC e criou o Corredor Negro. Este personagem representa o fim da vida no universo dos Novos Deuses, movendo-se a uma velocidade incompreensível sobre um par de esquis. Muitos acreditam que o Corredor Negro foi uma forma de Kirby revisitar o conceito do Surfista Prateado à sua maneira, especialmente considerando seu desconforto com Stan Lee escrevendo o Surfista sem ele.
No reino do sobrenatural, o Motoqueiro Fantasma da Marvel, que estreou em 1972, se tornou um ícone com Johnny Blaze, um dublê que fez um pacto com Mefisto e se transformou em uma figura infernal com um crânio em chamas, correndo em sua moto flamejante para punir os culpados. Anos depois, em 1991, a DC apresentou Caveira Atômica. Joseph Martin, após um acidente com radiação, desenvolveu superforça, uma aura energética instável e uma aparência que deixava seu crânio brilhante à mostra, tudo envolto por energia atômica. Apesar de sua origem científica, o visual de uma caveira incandescente, envolta em poder e raiva, deixava clara a inspiração.
O domínio dos mares também não escapou de similaridades. Antes do Aquaman, a Marvel já tinha seu próprio soberano dos mares: Namor, o Príncipe Submarino, que apareceu em 1939. Criado por Bill Everett, Namor era um anti-herói temperamental, híbrido de humano e atlante, e um dos primeiros personagens da editora. Dois anos depois, em 1941, a DC apresentou Aquaman. Também filho de um humano com uma atlante, Arthur Curry nasceu com a habilidade de respirar debaixo d’água, se comunicar com criaturas marinhas e suportar pressões oceânicas extremas. A similaridade é gritante: trono submarino, origem mista, força sobre-humana e domínio sobre a vida marinha. Enquanto Namor sempre teve uma aura de antagonismo e desprezo pela superfície, Aquaman se consolidou como o atlante mais diplomático e heroico.

As criaturas pantanosas também têm seus equivalentes. O Homem-Coisa da Marvel, de 1971, era Ted Sallis, um cientista transformado em uma criatura pantanosa após um acidente, sem fala e guiado pelo instinto, com a habilidade de queimar quem sente medo. Apenas alguns meses depois, a DC apresentou o Monstro do Pântano. Alec Holland, outro cientista vítima de um acidente, também cai em um pântano e renasce como uma criatura feita de vegetação. A diferença crucial é que Holland manteve sua inteligência e consciência, permitindo ao personagem evoluir para histórias complexas e se tornar uma força elemental conectada à natureza, especialmente na fase de Alan Moore.
Líderes africanos também entraram nesta lista. O Pantera Negra da Marvel, criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1966, é T’Challa, rei de Wakanda, uma nação africana tecnologicamente avançada. Com seu traje de vibranium, habilidades aprimoradas e mente estratégica, ele se destacou pela representatividade e profundidade política e cultural. Décadas depois, em 2016, a DC apresentou o Leão Vermelho, um líder africano que veste um traje vermelho vibrante, feito de tecnologia avançada, e com poderes físicos elevados. O personagem claramente remete ao Pantera Negra, mas com uma inversão de abordagem: T’Challa representa diplomacia e equilíbrio, enquanto o Leão Vermelho é um líder de visão rígida, focado em controle e força.

Finalmente, o amigão da vizinhança tem seu paralelo sombrio. O Homem-Aranha da Marvel, de 1962, Peter Parker, tornou-se um dos maiores ícones da cultura pop com sua origem trágica, senso de responsabilidade, poderes aracnídeos, uniforme vermelho e azul e humor em combate. Em 1976, a DC apresentou o Aranha Negra. Eric Needham é um vigilante urbano com traje escuro, visual inspirado em aranhas e grande agilidade física. Embora sua abordagem seja mais direta e com métodos questionáveis, a escolha estética e o conceito geral levantam comparações inevitáveis com o Homem-Aranha. Ambos são vigilantes mascarados com tema semelhante, mas que seguem por caminhos bem diferentes.
Esses exemplos demonstram que, embora a Marvel seja frequentemente apontada como a “copiadora”, a DC também soube “olhar para o vizinho” e trazer suas próprias interpretações de conceitos e designs bem-sucedidos. No final das contas, essas “inspirações criativas” enriquecem o universo dos quadrinhos, mostrando como as ideias podem evoluir e se manifestar de diferentes formas através das lentes de cada editora.
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