Review | Despelote (PC)
Dos mesmos criadores de Untitled Goose Game, Despelote nos convida a embarcar numa viagem íntima e quase poética pelas ruas e parques de Quito, no Equador, através dos olhos e ouvidos de Julián, um garoto de oito anos. Mas não se engane: apesar de parecer uma simples aventura infantil, o jogo é, na verdade, uma das experiências narrativas mais marcantes e inovadoras desse ano, um retrato sensível sobre identidade, cultura e a paixão coletiva que une uma nação: o futebol.
Desenvolvido por Julián Cordero e Sebastián Valbuena e publicado pela Panic, Despelote chega no dia 1º de maio para PC, PlayStation, Xbox e, posteriormente, Nintendo Switch. E mesmo com pouco mais de duas horas de duração, o impacto emocional que ele deixa é duradouro.
ᐳ Uma janela para 2001

O jogo recria o período em que o Equador vivia a expectativa pela sua possível primeira classificação para uma Copa do Mundo. A narrativa é semi-autobiográfica e se entrelaça com fatos históricos, como a dolarização do país no início dos anos 2000 e o jogo decisivo contra o Uruguai, em 7 de novembro de 2001, que garantiu a vaga.
Julián nasceu em 1997 e é com sua inocência e seus olhos encantados que exploramos a cidade. A bola de futebol, mecânica central do jogo, não é apenas um brinquedo, mas um símbolo de união, identidade e resistência. Ao chutá-la pelas ruas e observar as reações dos transeuntes, mergulhamos num cotidiano tão verdadeiro que chega a ser nostálgico.
ᐳ Uma obra de arte em movimento

Visualmente, Despelote é um espetáculo. O jogo aposta em texturas granuladas, personagens com estilo de quadrinhos e legendas inseridas em balões de fala, o que reforça a perspectiva lúdica da infância. O mundo é vibrante, cheio de vida, reações espontâneas e detalhes minuciosos. Adultos são vistos da altura de uma criança, há travessuras escolares, brincadeiras nos becos e até broncas ao ligar um fogão escondido.
É quase como assistir a um filme documental sonhado, onde a cidade de Quito é capturada em sua essência, com áudio e fotos reais gravadas no local. A sensação de autenticidade é tamanha que, por vezes, esquecemos que estamos jogando.
ᐳ Trilha sonora e ambientação

A trilha sonora e os sons ambientes são um capítulo à parte. É raro ver um jogo que entende tão bem o papel do som na narrativa como Despelote. A ambientação sonora, aliada ao visual artístico, transforma cada momento em algo digno de ser visto.
ᐳ Muito além do futebol

Mesmo com a bola sempre por perto, Despelote é menos sobre futebol e mais sobre pertencimento, infância e memórias. O jogo não busca competição ou placares, ele quer que você observe, sinta e entenda o mundo ao redor de Julián. É uma ode à juventude, às amizades e àquilo que forma a identidade de um povo.
É impossível jogar e não se lembrar da sua própria infância. Daquele tempo em que o mundo parecia grande demais e qualquer notícia, como a ida do seu país à Copa, era motivo para festa no bairro inteiro. Nesse sentido, Despelote é universal, mesmo sendo profundamente equatoriano.
ᐳ Conclusão

- ▲ Narrativa emocional e inovadora
- ▲ Visual e ambientação imersivos
- ▼ Gráficos podem causar estranheza
- ▼ Curta duração
Fomos gentilmente presenteados com uma cópia de Despelote pela distribuidora para esta análise. Esta review reflete nossa opinião sincera e honesta sobre o jogo, sem influências externas.
ㅤ
Compartihar:
2 comments