CRÍTICA | AMIGOS IMAGINÁRIOS
Filmes infantis são uma balança difícil de se alcançar. Os mais memoráveis conseguem ir além dos pequenos, oferecendo uma experiência igualmente satisfatória para os espectadores mais velhos. “Amigos Imaginários” desde o começo parece ambicionar um êxito semelhante.
O longa dirigido por John Krasinski certamente tem mais em comum com as dramédias que marcaram sua trajetória na direção do que com a franquia ‘Um Lugar Silencioso’. A aventura conta a história da jovem Bea (Cailey Fleming). Marcada pela perda da mãe, que morreu de câncer, ela vê seus dias passarem de forma melancólica na casa da sua avó (Fiona Shaw), enquanto seu pai (Krasinski) trata uma doença cardíaca. Bea acaba conhecendo o misterioso vizinho Cal (Ryan Reynolds) e inesperadamente ganha a capacidade de ver os amigos imaginários das pessoas – conhecidos também como “Migues” – que foram esquecidos pelas crianças com o passar do tempo.
As fragilidades de ‘Amigos Imaginários’ se tornam evidentes quando esse elemento fantástico entra na narrativa. A partir daí, passa-se um bom tempo explicando as regras (por vezes confusas) desse novo universo. Mas o que não fica muito claro é no que essa aventura realmente agrega ao drama que Bea enfrenta e na sua relação com o seu pai.
Existe uma tentativa de amarrar os núcleos na parte final, mas o fio conector é frágil demais, e a impressão que fica é que ambos os lados acabam se cancelando de certa forma. O tom melancólico do drama parece demais para os pequenos. Já do outro, a presença dos Migues acaba diluindo esse drama e tornando-o infantil demais para que os adultos consigam se investir emocionalmente.
Outro problema é que os “Migues” que aparecem não vão muito além de um trejeito bonitinho ou uma piada física. Com exceção de Blue, poucos são explorados ou memoráveis além da gag visual. Quando chega a hora de funcionarem como uma extensão dos personagens humanos, acabam soando superficiais.
Cabe à jovem Cailey Fleming carregar o longa nos ombros. E na maior parte do tempo, ela consegue. Ela é uma revelação e preenche o filme de sinceridade. Esse e ‘Um Lugar Silencioso’ podem ser uma prova de que o maior dom de John Krasinski como cineasta é o de arrancar belas performances de atores mais jovens.
Vale mencionar também Ryan Reynolds, que se despe um pouco da persona de Deadpool e entrega um dos seus trabalhos mais sóbrios dos últimos anos. Fiona Shaw é dona da cena mais bela do longa, pena que seu personagem tenha sido tão periférico até aquele momento.
O grande acerto de “Amigos Imaginários” se dá na parte técnica, na forma como mistura esses personagens criados de forma totalmente digital com pessoas e meios reais. Não é nada novo, mas aqui é feito de forma perfeita. Michael Giacchino também é digno de nota, entregando uma trilha sensível que ajuda a elevar os momentos mais dramáticos.
‘Amigos Imaginários’ acaba ficando no meio do caminho de suas boas intenções. Por vezes parece ser um projeto pessoal para Krasinski. Existe uma sinceridade e fica claro que esse é um projeto pessoal, o que acaba sendo o suficiente para elevá-lo acima de várias produções infantis que são lançadas atualmente.
NOTA FINAL
3
★ ★ ★
Autor: Raphael Aguiar
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