CRÍTICA | FURIOSA: UMA SAGA MAD MAX
Como seguir depois de um filme que é considerado não só sua obra-prima, como também um novo paradigma no gênero de ação? Esse é o dilema que o aclamado cineasta australiano George Miller parece responder com “Furiosa: Uma Saga Mad Max”. Nove anos após o lançamento do premiado “Mad Max: Estrada da Fúria”, temos aqui mais um conto na Wasteland. Assistindo ao filme, a resposta parece ser: simplesmente não tente repetir o êxito anterior.
“Furiosa” é um filme que, em poucos minutos, já consegue ser narrativamente maior e ao mesmo tempo mais íntimo do que tudo o que já foi mostrado na franquia. É uma história de origem, um conto de vingança e um “coming of age” de uma garota jogada à força em um deserto pós-apocalíptico. O roteiro de George Miller e Nico Lathouris traz um novo olhar para a saga. Diferente dos personagens habituais, que já pareciam estar habituados ao caos e à selvageria no deserto, a jovem Furiosa vai sendo lentamente moldada nesse mundo amoral.
O começo da trama é dedicado ao desenvolvimento desse amadurecimento da personagem. Ela passa de prisioneira de Dementus (Chris Hemsworth) a capanga de Immortan Joe e depois se torna aprendiz de Pretoriano Jack (Tom Burke). Através de cada uma dessas relações, Miller revela as raízes da resiliência de Furiosa, ressignificando suas ações em “Estrada da Fúria”. O tom pode ser diferente, mas o desejo de voltar para casa move a personagem em ambas as histórias.
Alyla Browne e Anya Taylor-Joy dividem a personagem com brilhantismo. A primeira ocupa uma boa parte do começo da projeção e deixa sua marca no restante da obra. Já Taylor-Joy tem aqui um dos seus melhores trabalhos. Uma performance bastante física, que evoca a ferocidade e o cansaço de quem precisa lutar todos os dias para sobreviver. Miller sabe tirar proveito máximo da sua presença única. As duas atrizes não se limitam a um mero cosplay e tomam posse dessa personagem já icônica.
Chris Hemsworth também se destaca como o corrupto Dementus. Extremamente carismático, sua presença consegue ser encantadora e acolhedora como a de um líder de culto, ao mesmo tempo que consegue ser ameaçador ao expor sua crueldade sem limites. Seu personagem serve também como um contraponto a Immortan Joe. Se o último parece ser um tirano mais estrategista na sua expansão de domínio, Dementus simplesmente espalha o caos e o conflito em prol da sua ambição.
Cada cena de “Furiosa” traz um verdadeiro delírio visual e sonoro. Miller encontra mais uma vez uma maneira de misturar cenas de ação filmadas de forma prática com CGI, potencializando ainda mais o senso de encanto que se tem ao testemunhar cada batalha na estrada. Enquadradas e editadas de forma perfeita, as cenas de ação mais uma vez traduzem o modo de vida visceral que aqueles habitantes seguem. Cada explosão é sentida. Cada arranque de motor é de arrepiar.
Ainda que já tenhamos sido apresentados a certos personagens e alguns lugares anteriormente, nada aqui soa repetido. A direção de arte mais uma vez é delirante nos figurinos e no design de cada veículo, que muitas vezes se mesclam a objetos como manequins.
“Furiosa” é uma excelente adição ao universo Mad Max, expandindo muito mais que o background de uma personagem inesquecível. Funciona isoladamente como um épico de vingança e reforça a genialidade de George Miller como contador de histórias visuais. É para ser testemunhado na maior tela que você encontrar.
NOTA FINAL
4,5
★ ★ ★ ★
Autor: Raphael Aguiar
Compartihar:
Publicar comentário