É uma história de amizade que se constrói de maneira sincera e espontânea. Ricardo Alves Júnior foca na coletividade dos personagens, em como quer transmitir esse diálogo interior entre eles, sendo natural e afetuoso dentro de enquadramentos que coloquem todos num plano sem closes. Ele se permite guiar a narrativa por essas interações, sem querer forçar algo mais apelativo ou relativizar qualquer coisa, num espaço cênico que inclui todos os personagens como viventes de uma mesma experiência geral.
A experiência é a liberdade de sentir bem com a sua própria sexualidade e ter essa convicção otimista da sua personalidade sem receios. A transexualidade como tema aqui se comporta bem mais como uma característica normal de pessoas felizes do que como uma crítica em ” obrigação “de se acoplar em um moralismo mais desvirtuado.
Ainda que eu me incomode com essa ânsia por elipses que parece se desregular ao tentar criar uma jornada para os personagens, eu adoro como o filme explora essa característica normal deles e a usa para criar uma visão sobre a autoestima.
Tem-se a proposta de uma descrição mais óbvia do preconceito que a sociedade tem com a transexualidade em breves momentos, envolvendo negação familiar, violências morais e que até se reflete no personagem da Bramma Bremmer ( que vai se desprendendo de uma melancolia que liga a esses momentos). Porém, o filme se recorre mais a descrever a beleza e liberdade de se aceitar na posição alheia a qualquer padrão social estabelecido e se conectar com suas próprias ideologias. Ideologias essas que são compartilhadas com boa química, naturalidade e integração cênica.
A espontaneidade com que o diretor naturaliza o seu filme causa essa boa impressão de respeito e igualdade com que sentimentos podem ser expressados, e ainda que contenha esse genérico resumo de insatisfação social com drogas e cigarro, eu curti bastante a noção coletiva da obra e em sua execução mais autoritária do ” seja você mesmo “.
NOTA FINAL
4/5
★ ★ ★ ★
Autor: FLÁVIO JÚNIOR