CRÍTICA | PORTO PRÍNCIPE

Bertha interpretada por Selma Egrei é uma senhora que vive em uma chácara isolada na serra catarinense e vive uma vida solitária.

No entanto, ela conta com o auxilio de uma ajudante nas tarefas domesticas e seu filho faz visitas periodicamente, apesar de não concordar com a ideia da mãe morar sozinha por alguns motivos, principalmente pela idade, porém ela não pensa em deixar sua casa e sua chácara para ir morar na cidade.

A chegada de alguns imigrantes vindos do continente africano se torna uma oportunidade para a personagem principal achar um ajudante nas tarefas e serviços braçais que a chácara demanda, Bertha vai até a Ong onde estão os imigrantes e faz o convite a Bastide interpretado por Diderot Senat.

Bastide é inteligente, sabe falar diversos idiomas e já foi professor em seu país de origem, ele encara o convite como uma oportunidade de sair daquele espaço com imigrantes que ele não se sente confortável, então ele aceita e vai trabalhar e morar na chácara mas o que ele não espera é que pelo fato dele ser afrodescendente e estar em espaços majoritariamente de pessoas brancas, cheias de julgamentos e costumes alemães.

Como se não fosse suficiente, Bastide ainda precisa lidar com o filho de Bertha que não concorda que ele trabalhe para sua mãe e até sugere que outra pessoa indicada por ele substitua Bastide mas sua mãe não concorda com a ideia e recusa, mesmo tendo percebido que seu novo empregado havia mentido para ela já nos primeiros dias.

Bertha confronta Bastide sobre a mentira e ele acaba sendo sincero e relata que mentiu sobre ter experiência com atividades do campo e se justifica alegando que irá aprender e precisava muito sair da ONG e achar um trabalho.

Dona Bertha e Bastide acabam convivendo de forma amistosa e tudo vai se encaixando com o tempo, o problema é a interferência da família de dona Bertha, em especial de seu filho que está disposto a fazer de tudo para tirar Bastide da chácara, enquanto isso a protagonista logo se vê tendo que tomar algumas atitudes para que sua família não interfira em suas decisões e sua chácara.

Então ela se livra da ajudante, pois ela desconfia que ela está passando informação para seu filho e fazendo com que ele interfira mais ainda em sua vida. Os personagens principais claramente estão passando por situações um tanto difícil de lidar e em certos momentos percebem que estão praticamente sem saída, mesmo assim acabam tendo que lidar com situações delicadas e precisam buscar soluções práticas para que possam se manter em um ambiente seguro e sem interferência de terceiros, apesar de não ser uma tarefa fácil, eles acabam conseguindo passar pelo processo de adaptação e dessa forma sobreviver na serra catarinense.

Por sua vez, a personagem principal está a beira de um colapso e mesmo assim precisa lidar com vários sentimentos como luto, superação, desapego, solidão, angústia e insegurança, porém como sua família não apoia sua decisão e sempre acham que ela tá se arriscando e fazendo tudo sem pensar, ela acaba compartilhando seus objetivos com Bastide que mesmo sendo um empregado acaba virando amigo e companheiro dela.

Além disso, a protagonista se encontra totalmente pressionada tanto pela família quanto por seu advogado que diz que o fato dela ter um empregado imigrante é arriscado e perigoso, mesmo não tendo cedido quando seu filho disse basicamente o mesmo, ela começa a refletir sobre isso e decide ter uma conversa com seu empregado.

Bastide decide seguir sua vida longe da chácara e parte para a cidade em busca de oportunidade, ao chegar na cidade o personagem se encontra desolado e ao mesmo tempo prefere enfrentar os obstáculos para não precisar voltar para a Ong e conviver com os outros imigrante.

O personagem já foi professor e pretende voltar para suas atividades acadêmicas mas pelo fato de ser novo na cidade não surge oportunidades, ele vai atrás de outros tipo de trabalho para conseguir se realocar no mercado de trabalho e com o tempo surge a oportunidade de ser voluntário em uma escola pública e ele começa suas atividades na escola e acaba se envolvendo com uma funcionária da escola.

A diretora consegue criar uma narrativa envolvendo temas relevantes e essenciais para o desenvolvimento dos personagens e até mesmo o aprofundamento dos mesmos, isso é feito de forma singular e ainda conta com uma ótima ambientação que faz com que os personagens sejam o foco da trama, e isso é feito de uma forma simples mas bastante eficaz.

NOTA FINAL

3/5

★ ★ ★

Autor: Weslley Lopes