CRÍTICA | SILVIO
Desde o seu primeiro trailer “Silvio” parece ter despertado uma peculiar curiosidade no público. A caracterização de Rodrigo Faro principalmente inspirou diversos memes e foi questionada pelos cantos da internet. Tendo visto o resultado final, fica claro que o longa metragem sobre o icônico apresentador, que faleceu faz poucas semanas, passa longe de ser o desastre profetizado por alguns.
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Mas talvez fosse até melhor se correspondesse a essas sórdidas expectativas, visto que resultado é tão conservador naquilo que tenta “revelar” da intimidade do Senor Abravanel que termina sem dizer nada novo sobre o homem que existe por trás do mito. Nada justifica essa produção ou torna ela digna de ser uma nota de rodapé na vida do magnata da televisão.
A trama começa poucos dias após o sequestro da filha de Silvio, Patrícia Abravanel. Não demora muito para que o foco se torne a famosa invasão de Fernando Dutra (Johnnas Oliva), um dos sequestradores de Patrícia que volta para mansão de Silvio numa tentativa desesperada de fugir após a prisão dos seus outros dois comparsas. Esse tom de filme policial é o que o longa consegue oferecer de mais interessante.
Mesmo que a maior parte do público já esteja familiarizada com o desfecho desse capítulo, o clima de tensão aumenta naturalmente com a chegada de Fernando . A forma como a tensão na casa é entrecortada com as ações da polícia militar e até do secretário de segurança de São Paulo oferece uma boa dinâmica e um vislumbre do impacto cultural e político de Silvio no Brasil.
O problema começa quando o longa decide abraçar um tom melodramático digno daquelas novelas mexicanas que ainda preenchem a grade de programação do SBT. Entra em cena um recurso duvidoso aonde Silvio, numa tentativa de acalmar e se conectar com Fernando, começa a compartilhar memórias sobre sua juventude e sobre o começo da sua carreira. Mas tudo é superficial e dramaturgicamente falso.
Em um determinado momento Silvio ganha a indicação pra um teste de locutor com um delegado que estava prestes a prendê-lo. Em outro, ele ganha um papel importante do seu ídolo praticamente de mão beijada. O Silvio Santos de “Silvio” parece mais um espectador passivo. O personagem menos interessante no seu próprio filme. Essa escolha também compromete a tensão de tudo o que ocorre durante o sequestro. O longa não funciona como biografia e também termina frustrante como thriller policial.
Rodrigo Faro faz o máximo que pode com um roteiro que foge pela tangente em todas as ocasiões. Chega a ser frustrante ver um ator aparentemente tão entregue enfrentando um texto que se recusa a revelar qualquer forma de intimidade. Resta a ele reproduzir trejeito, jargões famosos e olhar para o horizonte enquanto conta histórias inspiradoras de vida.
Johnnas Oliva é quem se sai melhor no papel de Fernando Dutra. A impressão que fica é que o filme seria bem melhor se fosse focado no ponto de vista dele. Oliva consegue ser o sopro de humanidade que o filme tanto carece.
“Silvio” se apoia em recorte limitado da vida do locutor. Ainda que se passe dentro da intimidade de Abravanel, a impressão que fica é que vemos apenas aquele personagem que já conhecemos na televisão e nada do homem por trás dele. Rodrigo Faro tenta mas acaba refém de um projeto que a todo momento parece mais interessado em santificar seu protagonista. Resta ao elenco de Coadjuvantes a missão de revelar um pouco da humanidade por trás do mito.
NOTA FINAL
2/5
★ ★
Autor: Raphael Aguiar
Agradecemos a Imagem Filmes pelo convite.
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