CRÍTICA | BACK TO BLACK
Não é de se espantar que o anúncio de ‘Back to Black’ tenha gerado tanta controvérsia. A curta, mas marcante, trajetória de Amy Winehouse pela música foi marcada por uma intensa cobertura dos mais diversos tabloides, que expunham sem pudor sua vida íntima e a luta que a cantora travava para se manter sóbria. É fácil cair na espetacularização dos traumas quando se trata de Winehouse. O longa de Sam Taylor-Johnson (O Garoto de Liverpool) passa longe de ser o desastre previsto por alguns, ainda que acabe caindo nas armadilhas que alguns fãs tanto temiam.
‘Back to Black’ é, em sua maior parte, uma cinebiografia bastante sóbria, atendendo ao que se espera de uma na sua estrutura narrativa, com direito a protagonista vislumbrando seu futuro com falas que referenciam suas conquistas ao longo da carreira. Questões mais espinhosas, como a bulimia de Amy, são tratadas de forma passageira, sendo apenas mencionadas ocasionalmente.
O maior incômodo está na forma como as tensões no relacionamento com o pai de Amy, Mitch Winehouse, foram amenizadas. Aqui, ele é retratado sempre como um patriarca solícito e amoroso. Os atritos de Amy com produtores musicais também são resolvidos em questão de um ou dois minutos. Com meia hora de filme, ela já é uma das artistas mais escutadas no Reino Unido. No fim, tem-se poucos insights do ponto de vista íntimo da cantora ou com relação à sua passagem pela indústria musical.
O filme realmente decola com a chegada de Blake Fielder-Civil, que se tornaria o marido de Winehouse. Marisa Abela (Industry) e Jack O’Connell (Invencível) brilham em seus papéis e transbordam química juntos. Temos a oportunidade de ver uma Amy brincalhona, apaixonada e carismática. O romance entre os dois parece mudar totalmente a dinâmica do filme. O roteiro deixa de lado toda uma preocupação em pinçar pontos conhecidos e aparições de Winehouse e passa a focar na relação de poder perigosa que mais tarde se revela destrutiva.
‘Back to Black’ oferece uma bela plataforma para a jovem Marisa Abela. Ela performa covers de grandes sucessos de Winehouse com vigor, numa performance que felizmente não cai na simples imitação. Com certeza, será a maior beneficiada com o lançamento desse longa. Jack O’Connell é puro carisma como Blake. Já que o filme é totalmente do ponto de vista de Winehouse, faz sentido que haja uma aura de sedução em torno do seu personagem. Ele entra em cena como um malandro arquetípico e, com o avançar da trama, acaba entendendo (e explorando) seu poder sobre Winehouse.
A derrocada acontece justamente quando o romance entre Amy e Blake parece descarrilar. Existe uma aversão em apresentar qualquer personagem de forma negativa, o que deixa tudo bastante superficial. Os únicos vilões de fato são os paparazzi, retratados como urubus sempre à espreita, seja na frente da casa de Amy ou na saída de qualquer loja de bebidas alcoólicas em Londres. Ironicamente, o filme escolhe o mesmo caminho, dedicando seu ato final a sucessivas cenas em que Winehouse mergulha nas drogas e no álcool e tem dificuldade em performar no palco.
No fim, temos mais uma biografia higienizada, dirigida de forma competente e com duas performances formidáveis que não conseguem avançar assim que o romance descarrilha. ‘Back to Black’ termina sendo uma nota de rodapé na história de uma voz poderosa que ainda tinha tanta coisa para dizer ao mundo – e que não deveria ser diminuída a apenas uma prisioneira de seus demônios pessoais.
NOTA FINAL
2.5
★ ★
Autor: Raphael Aguiar
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