É uma pena que a história confusa e tardiamente empolgante tenha frustrado o que poderia ser uma ótima conclusão da trilogia da crise que sela enfim o divisivo Tomorrowverse. Eu até vinha curtindo a remodelagem honesta das animações perante a impossibilidade auto afirmada de adaptar fielmente os icônicos quadrinhos do Marv Wolfman.
Eu entendo a repulsa de muitos fãs da DC até então, mas eu particularmente achava coisas legais dentro da tentativa solene de ser autoral, mesmo com um material base pronto para ser usado.
Por exemplo, acho bacana como alguns personagens se apropriam de outros para ter destaque, como a Supergirl sendo agora a funcionalidade viva do que foi a Precursora nos quadrinhos, ou também a forma de linkar o universo findado dos novos 52 com o John Constantine, além de propiciar uma participação mais ativa da Mulher Maravilha e até mesmo da Bat-Família.
Por isso entendi bem o que foi feito no longa anterior com o personagem do Pirata Psíquico. A ideia da autoralidade admitida é dar novas nuances e saltos narrativos que pelo menos cheguem a uma ideia de crise, buscando também dar foco a certos personagens, num ponto de partida que consegue administrar esse lado individualista da emergência toda, o que evidentemente contrasta com a coletivização heroica que os quadrinhos prezam.
E tudo bem, curti ( sempre entre trancos e barrancos ) a tomada disso pelo Flash lá no primeiro filme, com um apelo a dimensão emergencial dos mundos colapsando e também, sob muitas ressalvas, o direcionamento narrativo ao Pirata Psíquico e a boa conexão existencial entre o Monitor e a Supergirl. Tudo isso acabou deixando as comportas escancaradas para o terceiro filme incitar o embate com o perigo capital e agora sim buscar revitalizar um teorema coletivo da luta final.
O problema é que isso não acontece. Crise Parte 3 só burocratiza essa linha já esforçada concretada pelos dois longas anteriores e repassa os mesmos problemas para a montagem rápida, que não consegue doar peso aos eventos que vão se desenrolando.
O grande vilão vira uma figura circunstancial sem nada mais a não ser sua presença resolutiva entre as terras que ele dizima, enquanto o filme só se aproveita disso para inventar novos problemas e soluções com um teor comprometedor de conveniências e facilitações por parte dos heróis.
Há a troca do individualismo pela coletivização, mas ela é feita ainda de forma confusa, herdando ainda aquela falha de muitos personagens sem desenvolvimento nenhum aparecendo como ativos em alguma situação.
O filme só consegue mesmo engatar quando precisa apelar para o fã service, ainda que sem nenhuma maior necessidade, a não ser frisar eloquentemente que já vimos animações que são canônicas dentro do multiverso DC. Mas o que poderia ser a epicidade de um fim de universo, vem a se tornar somente uma animação sugestiva sem chegar de fato ao ápice do potencial que uma crise poderia atingir.
Até a cena mítica onde o Superman segura a Supergirl nos braços – por mais legal que eu ache – não consegue ter um peso maior, dentro de uma narrativa problemática que resolve tudo numa escalonagem indiscriminada de informações repentinas. Até o plot dele acabando passando a impressão de ser deslocado.
Pelo que parece, Crise em seu último vislumbre, tentou se estabilizar numa epicidade coletiva que trairia o individualismo motor dos longas passados, mas falhou por não saber se aproveitar bem do ritmo.
Que aqui teima em ser burocrático e inadequadamente amontoador de plots multiversais sem nenhum sentido nem na própria cosmologia do filme, e que sela com um gosto agridoce a saga do Tomorrowverse.
O que salvou pra mim a experiência foi mesmo uma breve, porém muito bonita, atenção ao Superman, agregado ao link espiritual desse mundo com todo resto, encarnado no divertido Constantine.
Tivemos uma outra crise, que não necessariamente sofreu por não ser a crise que queríamos, mas que deixou de ser a alternativa definitiva para brindar uma crise emergencial entre os ótimos personagens da DC.
NOTA FINAL
2
★ ★
Crítico
Flávio Júnior
Graduando História por conta do quarteto mágico de 70, lembrando da paixão por paleontologia por conta do Spielberg de 93 e escrevendo cinema por conta do Perkins em 60. Apaixonado pela cinefilia e essas contas essenciais. Redator-blogueiro – Analista de cinefilia
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