Cinema Trash com esboços de boa violência
‘A Vingança de Cinderela‘ é um filme de horror e fantasia adaptado do clássico conto de Charles Perrault e que foi imortalizado pela Disney nos anos 50, Cinderela. Aproveitando o domínio público de uma das princesas mais famosas da humanidade, essa obra dirigida por Andy Edwards reconta a história da moça do sapatinho de cristal de um jeito mais brutal e sanguinolento.
O elenco do filme conta com Lauren Staerck como a versão femme fatale da princesa e Stephanie Lodge como a madrasta má. Morgan Purvis e Beatrice Fletcher são Rachel e Josephine, respectivamente, as irmãs invejosas de Cinderela.
No roteiro, assinado por Tom Jolliffe, a história subversiva da Cinderela é rítmico perante a uma necessidade de choque constante. Nesse sentido, existe até um valor pela intenção. Imaginar a Cinderela como um arquétipo de serial killer em protesto pela morte do pai pelas mãos da própria madrasta e da humilhação torturante advinda das irmãs é de fato condescendente com uma ideia de curiosidade válida dentro de um existencial cinema trash, que a obra parece não querer esconder.
Mesmo assim, não é tão divertido se inteirar na pós aparência do longa, mesmo com certa expectativa do cinema trash em sua composição. O filme não faz questão de usar esse aspecto para suplantar uma comicidade mais voluntária, deixando que suas deficiências estéticas atuem como um elemento puro e incompetente para sustentar a narrativa, sem um traço mais cínico ou auto deplorável, que faria da obra algo mais perdoável.
É que nesse âmbito, além da iluminação exagerada sobre os cenários íntimos, implodindo a percepção dos figurinos, existe uma artificialidade quase que integral a quase todos os tipos de efeitos práticos, que tiram qualquer tipo de impacto nas cenas de gore e violência, que o filme se devota tão orgulhosamente.
No geral, a personalidade catártica do filme se resume a sangue que parece com suco groselha e efeitos de maquiagem que se assemelham no máximo de seu esforço, em rabiscos de giz de cera na cara dos atores. Atores que por sua vez, encarnam personagens que não sentem dor ao arrancar um dedo do pé ou reagem a chibatadas como se estivessem se queixando de uma simples prisão de ventre.
Mas ao falar da violência de A Vingança Da Cinderela, acredito que ela não é unilateralmente desastrosa. Ainda que suspire essa percepção já citada, o esboço pelo menos anatômico dos símbolos que ela precede, são de certa maneira, bons. Existe uma sugestão até variada de compôr a morte, com um tom sádico que cai bem para se contrapor a toda a doçura e enfeite da obra original. Seja com um par de olhos soltos no travesseiro ou uma vítima posicionada como um porco amarrado para o natal, o filme transporta na versão obscura e vingativa de Cinderela um espécime interessante de sadismo imagético que pelo menos para esboçar uma boa violência, funciona.
Apenas a execução, embolada com a falta de uma identidade visual marcante e o amadorismo dos efeitos técnicos e práticos, é que estraga a importância desses esboços no trato geral do gore.
Pela narrativa em si, a obra acaba sendo redutível ao trash de femme fatale para ser experimentado como uma Fanfic brutal, só que sem qualquer coisa qualitativa para validar suas intenções em algo agradável, subvertendo risivelmente a transformação de princesa traumatizada para mascarada assassina, mediada pelas intervenções da fada madrinha, interpretada por Natasha Henstridge, que se torna aqui uma espécie de diabinha, motivando o caminho de vingança da Cinderela, fazendo-a portar também a máscara que parece enraizar nela esse espírito de vingança de modo incontrolável.
No fim, A Vingança de Cinderela é só um trash que se apropria da nomenclatura de uma personagem clássico para experimentar ideias de brutalidade e iniquidade polivalente, porém executando tudo isso com uma artificialidade integral, visual-narrativa, de qualquer tipo de envolvimento, até no mínimo cômico.
NOTA FINAL
2/5
★ ★
Autor: Flávio Júnior
Agradecemos a A2 Filmes pelo convite!